20181126
Acho sempre extraordinário quando consigo desmontar algumas das minhas ideias feitas. Tenho uma larga tendência para deitar pela boca fora algumas - para mim - verdades absolutas que a vida se encarrega de desmoronar. Uma delas é que a idade não é um fator importante para mim. E depois olho para o que escrevo e percebo que este tema anda perto da obsessão.
No entanto, há verdades que ainda o são e sempre o foram. A procura de mim próprio, por entre o imenso emaranhado do que eu sou, será, porventura, a minha maior verdade. Agora com uma nova roupagem, fruto de uma certa pacificação que a idade me foi trazendo, mas ainda assim, verdade.
Ontem, na homilia, o Padre Rosas falava acerca disto, da verdade, da verdade de cada um, da conveniente verdade de cada um que para tudo encontra a mais conveniente justificação. E de como isso nos afasta de nós próprios. Acontece-me muitas vezes nas suas homilias escutar apenas uma infinitésima parte delas, porque me remetem para esse tal emaranhado de mim. E ontem vagueei logo pelas minhas verdades, aquelas que conheço bem e assumo, mas também aquelas que, convenientemente, manipulo, para conseguir viver comigo. Não são muitas, já. Mas para o fim fica sempre aquilo que mais nos custa deixar, a perda mais profunda, a dor mais firme e duradoura.
Creio que isso acontecerá com todos, que todos têm lixo que preferem varrer para debaixo do tapete e esconder aos olhares alheios, mantendo aparentemente limpa a casa. Porventura alguns viverão melhor com isso que outros. Eu sei que já vivi. Mas agora, que ando em processo de limpeza da vida e da alma há já alguns anos - pela primeira vez com sucesso - sei bem o que tenho ainda de varrer, sei bem onde está cada pedacinho que precisa ser removido, resolvido, pacificado. E tenho-o feito. Com a arte, a paciência e a sabedoria profunda do Pateta. Nunca sem alguma dor. Que, no entanto, é largamente compensada pela noite com a cabeça em cima da almofada. Em paz.
20181122
Ali estava eu, diante das 4 pessoas que tinha diante de mim para cantar, a pensar na mais de dúzia que devia lá estar e não estava. E dei comigo a pensar coo dirigir é um trabalho muito solitário. Qualquer que seja a atividade. Qualquer que seja a equipa. Vesti o sorriso, levantei os braços, e começamos a cantar.
Houve fases na minha vida em que não dirigia nada. Era um excelente nº dois mas um péssimo nº 1. Talvez porque nessa altura a minha preocupação em ser gostado se sobrepunha a tudo o mais. A eficácia, a responsabilidade, o trabalho, eram levados a sério mas sempre sob aquele olhar inquisidor: espero que gostem de mim". Á medida que o tempo passa isso vai deixando de ser tão importante. Importa mesmo é que os meus gostem de mim. Sobretudo a longo prazo porque, como pai, também não posso ficar à espera que eles fiquem contentes quando os impeço de fazer algumas coisas. Os outros também são importantes. Muito importantes. Mas já não são decisivos.
Á medida que vou dirigindo - seja o coro, seja as formações, seja as equipas que vou dirigindo - vou percebendo que o respeito é mais importante. Podem não gostar das minhas decisões mas, se forem escutados, se estiverem a par de todas as razões, sobretudo se forem envolvidos nas tomadas de decisões, conseguem respeitá-las, apesar de não gostarem delas. Não gostarão tanto de mim, não o espero, pelo menos, mas espero a lealdade que o respeito pelo trabalho comum merece a todos nós.
Mas dirigir pessoas é uma tarefa que, em determinada altura, implica sempre a solidão da decisão. Posso escutar todas as pessoas, levar em consideração a sua opinião, a sua visão sobre as coisas, mas, na altura da decisão, estou sempre só. Porque apenas assim poderei assumir a responsabilidade.
Talvez tenha sido por causa disso que Jesus se recolhia sempre que tinha que tomar uma decisão importante. Fugia da multidão para pensar, pra escolher, para decidir e entregar a Sua decisão nas mãos do Pai. Ainda me falta isso. Já fujo da multidão, já penso, já decido, mas esqueço-me ainda muitas vezes de confiar a minha decisão ao Pai.
Espero que seja o próximo passo.
20181112
Eu gosto dos últimos. Sempre gostei. Talvez porque sejam os meus, o meu meio, aquele onde me situo com maior facilidade, aquele onde eu posso ser eu de peito aberto. Nos últimos existe apenas a realidade, quase sempre de forma bruta, pouco trabalhada, primária, e isso confere alguma tranquilidade. Com os últimos tanto posso receber um abraço como um banano, vindos do nada. Há ali autenticidade. Nos gestos, nas palavraa, nas ações. Gostas, gostas; não gostas, adiante que atrás vem gente. Não é uma questão de gosto, portanto. Talvez de inquietação. Talvez porque quando a balança pende demasiado para um lado eu tenda a olhar para o outro lado. Talvez porque muitas vezes prefiro olhar o olhar das pessoas quando olham um acontecimento que olhar o acontecimento em si. A verdade é que ao longo do fim de semana me dei a perguntar quem são, hoje, os últimos. Sobretudo para nós, cristãos, católicos. Quem são hoje os últimos? Pensamos imediatamente nos que atravessam o mediterrâneo tendo a vida por um fio, pensamos naqueles com que nos cruzamos a dormir nas soleiras das portas, eu penso logo nos miúdos, nos meus miúdos do RAIZ. Esses são os que me vêm à cabeça. Mas, armado em advogado do diabo, dei comigo a pensar nos outros, naqueles em quem normalmente eu não penso quando penso nos últimos. Nos trumps desta vida que fecham fronteiras, que vivem à custa dos outros, que exploram os outros, que conhecem as aparências e nelas chafurdam. Nos Patinhas desta vida para quem a felicidade se encontra nas notas e cotações da bolsa. E dei comigo a perguntar-me se aí habita Deus. E dei comigo a constatar que, claro, aí também habita Deus. E dei comigo a perceber que ser-me-ia infinitamente mais difícil ajudá-los a descobrir Deus que àqueles que de tudo necessitam. E concluí que também esses fazem parte, com certeza, dos últimos. Que merecem o nosso olhar. Apesar de tudo.
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Bambora
Não é estranho que nos digam que «ser homem é muitas vezes uma experiência de frustração». Mas não é essa toda a verdade. Apesar de todos ...
-
Somos bons a colocar etiquetas, a catalogar pessoas, a encaixá-las em classes e subclasses organizando-as segundo aspetos que não têm em c...
-
"Guarda: «Temos menos sacerdotes e, por isso, precisamos de valorizar, cada vez mais, os diferentes ministérios e serviços laicais nas ...
-
Sou contra o aborto. Ponto. Sou-o desde sempre. A base da minha posição é simples: acredito que a vida começa com a conceção. Logo, não é lí...