É uma treta dizer que o amor não precisa de recompensa. Claro que precisa. Quanto mais não seja da recompensa da imensidão de amar. Ou da preservação do amor próprio, que é a fronteira que define a bondade ou não de um amor. Porque amar também não é sempre bom. Nem ser amado é sempre bom. Se amar e ser amado fosse sempre bom, se fosse tudo cor de rosa, amar jamais implicaria arriscar, e se há risco nesta vida, ele encontra-se exacerbado quando se ama e se é amado.

No amor, nada é pele, tudo o que de importante acontece, é subcutâneo. Mesmo quando a pele inebria, ou sobretudo quando a pele inebria, é sob a pele que o turbilhão acontece. Porque se a pele sacia momentaneamente, esfomeia logo a seguir. Logo que o sangue esquenta, logo que o cérebro é irrigado e com ele a alma, e desperta em nós esta indómita vontade de estar com quem se ama. De viver com este amor. De viver para este amor. De respirar este amor, acordar com este amor, dormir com este amor, caminhar e trabalhar e sorrir e chorar como se apenas existisse este amor. Porque, quando se ama, este tudo é tudo. E o outro tudo é nada.

É uma treta dizer que o amor não precisa de recompensa. Claro que precisa. Precisa da imensidão de amar. 

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