De vez em quando converso com pessoas que entraram em stand by. Como se fossem meras peças de uma máquina maior, como se apenas desempenhassem funções, sem as ligar à substância da vida, desligando-se elas mesmas da substância da vida. De comum, dizem que não acontece de repente, mas através de uma espécie de letargia que se vai instalando e, às tantas, apenas fazem. Não pensam (a não ser em termos profissionais), não sintem (a não ser o que têm que sentir para fazer), e arrastam o cadáver, como diz o meu bom amigo PM. Como consequência, o inevitável vazio que sempre anda de mãos dadas com a letargia e o deixar correr. 

Mal o tempo mo permitiu, retomei as minhas caminhadas matinais. E, com elas, a sentir a vida a regressar ao meu quotidiano. Apesar de o fazer há bem mais que um ano, sinto que estou ainda em fase de descoberta. Novos sons, novas cores, novos cheiros, que potenciam novos olhares sobre os apenas aparentemente mesmos lugares. Até as pessoas que passam por mim - cada vez mais com cada vez menos roupa em cima do corpo - parecem outras, com os seus sorrisos abertos incentivados pelo céu igualmente aberto e sol ainda mais quente.

Hoje fomos piquenicar. Juntos. No Parque da Cidade. A segunda vez, esta semana. Desde que saímos do colégio até que regressamos passsou uma hora e dez minutos. Saímos uns e chegamos outros. Completamente diferentes. Mais soltos, mais felizes, mais relaxados, mais preparados para a tarde, que se adivinha complicada. Durante anos a fios pedi para fazermos isto. Afinal, estamos a escassos metros do Parque, a escassos metros do mar, e sabemos ambos como o verde e o mar nos fazem bem. Sobretudo como o "a dois" nos faz falta. Nunca havia tempo, nunca havia disponibilidade, muito menos mental. Até à altura em que teve que haver, sob pena de deixarmos a letargia pegar na batuta e reger a nossa vida.

Pasmo-me sempre com a facilidade com que permitimos que a vidinha tome conta da nossa vida. E, afinal, basta um passo. 




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