Contextualizando, para memória futura: os tios da minha mais-que-tudo estão velhos e não têm filhos. Como um tem Parkinson e outro tem Alzheimer e vivem a uma dezena de metros de minha casa, quem lhes dá apoio é a Isabel. Á medida que a doença foi avançando surgiu a necessidade de alguém dormir lá em casa deles, para o que fosse necessário. A minha filha mais velha prontificou-se logo a fazê-lo, o que é ótimo porque ela está em medicina e pode ser bem mais útil que qualquer um de nós.
Agora o que interessa: durante este fim de semana ela tirou as coisas dela de nossa casa e levou-as para a casa dos tios. São escassos metros, mas ainda hoje de manhã, quando passava no quarto dela e o vi vazio, senti um nó no estomago. Eu, que sempre disse que os filhos devem ganhar asas, que sempre lhes disse que logo que puderem devem ter o seu espaço, confirmo que não lido muito bem com a sua ausência. E não é fácil. Desde sempre que somos muitos lá em casa e aproxima-se a altura em que seremos menos. Daqui por dois anos dois dos meus filhos acabam a faculdade e outros se seguirão. E eu balanço: por um lado anseio por voltar a ter, finalmente, o meu espaço, as minhas coisas sem que ninguém lhes mexa, o silêncio e a serenidade de que tanto gosto; por outro lado, no entanto, a sensação do vazio que, inevitavelmente, se irá instalar. Terei - teremos! - que reaprender a viver com menos daquilo que verdadeiramente importa, ainda que vivamos com mais do que não é assim tão importante.
Mas vai ter que ser. Para bem deles e de nós próprios.   

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