Este desconforto de não pertença é-me frequente. Normalmente é acompanhado de uma outra sensação, mais corrosiva, de não dignidade, de pequenez. A maior parte das vezes não me acho suficientemente digno ou importante para estar onde estou, com quem estou, e por isso remeto-me a um canto. Em algumas dessas vezes vêm ter comigo e conversam e interrompem a minha confortável letargia. Por vezes gosto quando isso acontece. Às vezes é apenas desconfortável.
Aprendi que a melhor solução é correr para enfrentar a besta e tomar as rédeas dos acontecimentos. Por isso é também frequente ver-me no meio de muita gente - normalmente malta nova - de guitarra na mão a animar cantorias e danças. Esse ato de enfrentar e assumir o comando é-me absolutamente contranatura. Fi-lo a primeira vez há uma vintena de anos - já adulto, portanto - perante uma centena de jovens que não me conhecia e não sabia que eu gaguejo. Fi-lo porque ou o fazia ou me encolhia e me remetia ao silêncio, e não estava lá para isso. Despoletei a gargalhada geral nos primeiros 5 minutos contando piadas de gagos - com eles a pensarem que imito bem os gagos - para depois, quando já tinham rido tudo, perceberem que afinal não estava a imitar ninguém quando gaguejo. Depois foi só continuar.
Mas isso é trabalho. É autoimposto. Porque mal acabo, mal saio de cena, remeto-me a mim e ao meu recolhimento, ao meu sossego, ao meu pequeno mas imprescindível mundo particular, a minha Magic Land feita de sonhos e memórias de futuro. E aí, aí sim, sinto-me perfeitamente confortável.
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