Acho sempre curioso quando nós, os que dizemos que temos fé, agimos como se ela não existisse. Mais até que aqueles que dizem não a ter.

Para qualquer pai ou mãe crente, a educação dos filhos é algo problemática. Enquanto são miúdos e têm que fazer o que nós lhes "pedimos", a coisa ainda vai. Mas eles não o fazem sempre. Nós, lá em casa, educamos os nossos filhos a desenvolverem a sua capacidade de escolha e de argumentação o suficiente para que eles, a determinada altura, pudessem escolher o seu caminho, que poderia ou não ser coincidente com o nosso. E não é. Claro que há aqueles princípios básicos civilizacionais - o respeito, a boa educação, a não discriminação... - que são inegociáveis. O que, pelo menos para nós, não é o caso da fé.

A fé é um encontro, íntimo, profundo, autêntico, entre Deus e cada um. Ao considerarmos a fé desta maneira, não faz sentido a imposição da fé aos nossos filhos. Na verdade, todos eles fizeram o percurso catequético e sacramental de um católico, mas isso não tem a haver com a fé, mas com a religião. Por isso, enquanto alguns deles permanecem nesse caminho, com prática eucarística dominical, por exemplo, outros já o deixaram de fazer por escolha própria. 

Para ser sincero, isto não é absolutamente claro para nós enquanto pais - aliás, recordo-me de um número muito reduzido de coisas na educação dos nossos filhos que eram absolutamente claras - e, mesmo entre mim e a Isabel há posições e opiniões muito díspares. No entanto, até pela minha história pessoal do encontro de Deus comigo - e há sempre uma história pessoal - eu acredito mesmo que Deus vem ao nosso encontro. Assim, o que me preocupa é se os meus filhos estão atentos aos potenciais momentos de encontro com Deus. Se eles se escutam, meditam, se promovem o encontro consigo próprios ou vivem no turbilhão da luz e do som e do movimento ensurdecedores do espírito.. E o que fazem com o que escutam, como o operacionalizam, como saem de si mesmos para irem ao encontro dos outros. E do Outro. E aí a resposta é clara: até pelas suas escolhas profissionais, pela maneira como vivem o seu quotidiano, eles vivem com Deus dentro. Podem não ter prática religiosa convencional, mas o seu modus vivendi tem Deus dentro. E isso, para mim pelo menos, é o mais importante.

E é aqui que retorno à minha primeira afirmação. Nós, os que dizemos que temos fé, agimos muitas vezes como se não a tivéssemos. Falamos em Encontro Profundo, e caminhada de fé e no final vemos os sacramentos não como momentos em que esse encontro acontece mas como práticas de uma socialização eclesial que, sendo importante, não é, de todo o mais importante. Na verdade, a nossa grande tentação, enquanto pais, é a de forçarmos esse encontro, sem a liberdade que Deus nos deu para sermos nós a decidi-lo na profundidade e no recolhimento de nós próprios. E isso, quando a mim, denota pouca fé no próprio Deus, que, quaisquer que sejam as circunstâncias, vem sempre ao encontro de cada um. Em total e mútua liberdade. E tem que ser nessa liberdade que cada um decide a sua resposta. A cada momento!

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