20180712



É uma treta dizer que o amor não precisa de recompensa. Claro que precisa. Quanto mais não seja da recompensa da imensidão de amar. Ou da preservação do amor próprio, que é a fronteira que define a bondade ou não de um amor. Porque amar também não é sempre bom. Nem ser amado é sempre bom. Se amar e ser amado fosse sempre bom, se fosse tudo cor de rosa, amar jamais implicaria arriscar, e se há risco nesta vida, ele encontra-se exacerbado quando se ama e se é amado.

No amor, nada é pele, tudo o que de importante acontece, é subcutâneo. Mesmo quando a pele inebria, ou sobretudo quando a pele inebria, é sob a pele que o turbilhão acontece. Porque se a pele sacia momentaneamente, esfomeia logo a seguir. Logo que o sangue esquenta, logo que o cérebro é irrigado e com ele a alma, e desperta em nós esta indómita vontade de estar com quem se ama. De viver com este amor. De viver para este amor. De respirar este amor, acordar com este amor, dormir com este amor, caminhar e trabalhar e sorrir e chorar como se apenas existisse este amor. Porque, quando se ama, este tudo é tudo. E o outro tudo é nada.

É uma treta dizer que o amor não precisa de recompensa. Claro que precisa. Precisa da imensidão de amar. 

20180701






Estava eu alguns metros acima do solo e, como de costume, comecei mentalmente a chamar-me de tudo. A subida já tinha sido penosa, demasiado penosa, e à vista de todos ainda por cima, e era agora tempo de tentar parar as tremeliquices no corpo todo, esquecer o medo, e avançar. Arvorismo, como outros ismos, não são mesmo para mim. nem sequer é o fator idade, mas o fator medo, mesmo: alturas e atividades radicais nunca foram a minha praia.

Mas isso é uma coisa. Outra, bem diferente, é permitir que o medo me impeça de fazer. Já basta quando me impede de ser, o que acontece mais vezes que as que gostaria, mas tento sempre que o medo não me tolha. Era mesmo nisto que eu pensava enquanto subia, e era mesmo isto que lhes ouvia: eles, que momentos antes tinham dito que tinham medo, vieram a seguir a mim.

Há sempre uma enorme dose de loucura ao enfrentarmos os nossos medos. Não basta o medo em si , o termos que ultrapassar os nossos instintos de conservação e de proteção, e ainda temos a dúvida - nossa e dos outros - a fazer mossa. Passada a pica que leva à decisão de enfrentar, tudo o resto são dúvidas, que minam, que perturbam, que roubam a confiança. Arriscamos e as vozes dos outros não nos saem da cabeça. E como sabemos que essas vozes vêm sempre de quem nos ama, adquirem uma repercussão ainda maior. E, no entanto, ainda assim, por vezes avanço. Com vozes e tudo.

Eu arrisco muitas vezes. Imensas! Não tanto fisicamente, mas mentalmente. Saio muitas vezes da minha zona de conforto - que quase sempre em sei bem qual é - procuro outras, tentando fundamentalmente ir sendo mais. Já perdi imensas vezes, e coisas não pouco importantes, que me forçaram a refazer-me. Se de menino e de louco todos temos um pouco, eu tenho imenso. De ambos!

Bambora

  Não é estranho que nos digam que «ser homem é muitas vezes uma experiência de frustração». Mas não é essa toda a verdade. Apesar de todos ...