20160614
Apesar de ser um otimista nato, não sou um inconsciente. E estou preocupado. Com toda esta deriva de violência e extremismos que quase todos os dias nos assalta o quotidiano e perturba a consciência. Eu sei que a maior parte dos acontecimentos é potenciado pela velocidade das redes sociais que fazem com que tudo o que acontece no mundo aconteça aqui e agora. Eu sei que, por causa disso, tendemos a fazer nossos todos os problemas, todos os massacres, todas as discriminações que acontecem do outro lado do mundo. Mas também sei que todos os problemas, todos os massacres, todas as discriminações são efetivamente nossos, onde quer que aconteçam. E que, por isso, as redes sociais não são um alvo a abater mas a admitir, primeiro, e a admirar depois. Claro que nos roubam o sossego, claro que nos entorpecem, claro que nos insensibilizam, mas também nos mobilizam e nos desviam do cuidado hiperatento que temos com o nosso próprio umbigo.
Eu sei História. E sei como, em milhares de anos de civilização, tudo o que é basilar se mantém basilar. Os mesmos medos, a mesma necessidade de defesa, o mesmo nós contra os outros. E, da minha parte, a mesma dificuldade em saber lidar com acontecimentos antagónicos: por um lado, uma noção de liberdade que permite e potencia todos os abusos; por outro lado um extremismo latente e perigosíssimo que abusa permanentemente da liberdade de que goza e se aproveita dela para no-la roubar.
Não consigo perceber como, mas urge por cobro a isso. E alegra-me que, por uma vez, a Igreja que somos nós esteja no caminho certo. Sem dúvidas, sem subterfúgios, sem meias palavras. Tenhamos a coragem de o assumir. Se não o fizermos, de cabeça levantada e voz audível, seremos cúmplices na barbaridade. No mínimo.
20160608
De vez em quando converso com pessoas que entraram em stand by. Como se fossem meras peças de uma máquina maior, como se apenas desempenhassem funções, sem as ligar à substância da vida, desligando-se elas mesmas da substância da vida. De comum, dizem que não acontece de repente, mas através de uma espécie de letargia que se vai instalando e, às tantas, apenas fazem. Não pensam (a não ser em termos profissionais), não sintem (a não ser o que têm que sentir para fazer), e arrastam o cadáver, como diz o meu bom amigo PM. Como consequência, o inevitável vazio que sempre anda de mãos dadas com a letargia e o deixar correr.
Mal o tempo mo permitiu, retomei as minhas caminhadas matinais. E, com elas, a sentir a vida a regressar ao meu quotidiano. Apesar de o fazer há bem mais que um ano, sinto que estou ainda em fase de descoberta. Novos sons, novas cores, novos cheiros, que potenciam novos olhares sobre os apenas aparentemente mesmos lugares. Até as pessoas que passam por mim - cada vez mais com cada vez menos roupa em cima do corpo - parecem outras, com os seus sorrisos abertos incentivados pelo céu igualmente aberto e sol ainda mais quente.
Hoje fomos piquenicar. Juntos. No Parque da Cidade. A segunda vez, esta semana. Desde que saímos do colégio até que regressamos passsou uma hora e dez minutos. Saímos uns e chegamos outros. Completamente diferentes. Mais soltos, mais felizes, mais relaxados, mais preparados para a tarde, que se adivinha complicada. Durante anos a fios pedi para fazermos isto. Afinal, estamos a escassos metros do Parque, a escassos metros do mar, e sabemos ambos como o verde e o mar nos fazem bem. Sobretudo como o "a dois" nos faz falta. Nunca havia tempo, nunca havia disponibilidade, muito menos mental. Até à altura em que teve que haver, sob pena de deixarmos a letargia pegar na batuta e reger a nossa vida.
Pasmo-me sempre com a facilidade com que permitimos que a vidinha tome conta da nossa vida. E, afinal, basta um passo.
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Bambora
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