Gosto quando me fazem sentir pequeno. Aliás, costuma ser nesses momentos que eu dou mais valor aos que me rodeiam... e me amam. Porque ser grande pode ser ilusoriamente bom, mas é sempre redutor. Ficamos confinados a nós próprios, aos nossos gostos e decisões, sem conseguir perceber a grandeza dos que nos rodeiam, que às tantas acreditamos ser nossa, e nos tornamos seres insuportáveis.
Li muito recentemente um blogue de alguém que não conheço mas que escreve como gente grande. Ou pequena. Porque escrever assim é de quem vive maravilhado com a vida, de quem se sente grato por poder testemunhar o dom da vida. E o sentimento de gratidão, quando genuíno, é outra das condições necessárias para a felicidade.
Isto está, aparentemente, tudo ao contrário, portanto.
Todos os dias nos apelam à fundamentalidade de sermos bons e perfeitos e exemplares e motivo de admiração para tudo e todos, e todos os dias nos sentimos um pouco falseadores da nossa verdade porque nos conhecemos e nos sabemos, no máximo, esforçados e puxados até ao limite de nós próprios, e todos os dias sentimos que transportamos as nossas desilusões e as nossas frustrações e os nossos receios de que os outros percebam que, feitas as contas, não somos assim tão bons quanto desejamos, aparentamos e por vezes até nos fazem crer.
Posso, com extraordinária facilidade - e verdade! - confirmar que o meu reino, hoje, não é deste mundo. Que o meu reino é muito mais protegido, muito mais saudável, muito mais verdadeiro. Que vivo rodeado de pessoas com extraordinárias capacidades mas que não fazem alarido delas, que gostam de se dar e de se partilhar e de ficar felizes quando se permitem apreciar a grandeza alheia. Até poderei admitir que isso não será evidente à vista desarmada, que isso será difícil de ver para quem vive mergulhado em datas e testes e avaliações. Mas quem, como eu, tem o privilégio de lidar todos os dias com o lado B das pessoas, que se desvelam, se destapam e se descobrem, sabe da imensa fragilidade inconfessada que a todos nos assalta e a todos nos limita. Basta ter pouco mais que um minuto, basta ter a possibilidade de sentar e conversar um pouco, e o véu com facilidade se levanta.

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