20160429


Nos últimos dias tenho sido acometido pelo pecado da inveja. Tremenda inveja! Nas minhas habituais e matinais caminhas pela foz, eles passam constantemente por mim. Mochila às costas, roupa ligeira, olhos bem abertos, corpos curvados, rostos felizes. Apetece-me largar tudo e, logo ali, seguir-lhes  as pisadas. Sim, eu sei que irei fazer isso mesmo em Junho. E em Setembro. Sim, eu sei que ainda esta semana cheguei de algo parecido - mas que não tem nada a ver - e que as pernas ainda acusam essa caminhada. Sim, eu sei que já vai sendo tempo para ganhar algum juízo e deixar que o corpo imponha os seus limites. Sim, eu sei isso tudo, mas como em tudo aquilo que é verdadeiramente importante, o que sei não pode muito quando se debate com o que eu desejo. E o que eu desejo, nestes primeiros dias quentes, nestas primeiras manhãs verdadeiramente solheiras, é justamente pegar na minha mochila, enfiar lá para dentro meia dúzia de peças de roupa e partir.

Em boa verdade, gostaria muito, imenso, de o fazer completamente só. Me, myself and i. Ao meu ritmo, com os meus condicionalismos, respeitando as minhas próprias opções. Não será este ano que isso acontecerá, mas quero acreditar que não andará longe essa possibilidade de me concretizar no caminho. Poder desfrutar do silêncio interior, poder apreciar o que me vai passando diante dos olhos, conseguir o meu próprio esquema de deitar-dormir-levantar, escolher se fico ou onde fico ou até quando fico, é um privilégio de que nunca dispus (nunca quis dispor?) no caminho, como na minha vida.

Um dia destes...

20160428


Por mais que os bons livros, os bons filmes, a boa música, nos possam ensinar, há coisas que apenas adquirem sentido quando partilhadas.

Desde que me conheço que, provavelmente fruto de uma infância com muitas alturas de convívio forçado comigo mesmo, devoro livros. Toda a espécie de livros. As BDs, por exemplo alicerçaram muito do que é o meu conhecimento de história europeia e americana. Creio até que esta minha identificação da velhice com a sabedoria não vem de qualquer filósofo ou psicólogo mas da importância que, nos livros de BD, os chefes índios tinham para as suas tribos. No meu imaginário (eternamente) infantil, sempre me quis ver um pouco como um chefe índio, com os seus cabelos brancos, o seu cachimbo e o silêncio atento de quem escuta aquele que conhece o solene peso das palavras.

Aos livros seguiram-se os filmes e, consideravelmente mais tarde, a música. Que sempre fora tida por mim como algo de muito privado mas que, particularmente desde Taizé, se foi tornando também muito construção de memória partilhada.

As últimas vezes que visitei a minha avó, que está agora com 95 anos, permitiram-me conhecer peripécias da vida dela quando era nova. Não porque eu tenha particular interesse nesses tempos e nessas vidas, mas porque a sua memória recorda com  muito maior facilidade esses tempos e essas vidas que os nossos tempos e as nossas vidas. É extraordinária a forma como ela fala desses acontecimentos e dessas pessoas com pormenor, relatando nomes e circunstâncias e brincadeiras que em alguns casos apenas fazem sentido para ela porque estão justamente recheados de pormenores que apenas a ela fazem sentido e se nos escapam.

Recordei-me hoje de tudo isto ao ver uma foto de um arco íris. Para mim, que até sou meio daltónico e nunca lhe vi mais que três ou quatro cores consoante a sua intensidade, o arco íris nunca foi a sétima maravilha que me diziam ser. Ok, era giro e tal, mas sempre me pareceu pouco mais que uma infantilidade ligada a uma história de um pote de ouro. No entanto, há dias, numa daquelas partilhas que nos marcam as vidas, o arco íris ganhou um outro sentido, um outro significado, remetendo-me imediatamente para um olhar, uma conversa, que têm um rosto e um nome bem claros e definidos. E nunca mais voltou a ser um mero arco íris!

Lentamente, à medida que a minha vida vai avançando e eu me vou espalhando por aí, os dias vão ganhando novos significados, novas leituras. Uma determinada música de Damien Rice não será nunca mais apenas uma música de Damien Rice, um terraço ao luar nunca será apenas um mero terraço ao luar, um arco íris nunca mais será apenas um arco íris, uma gaivota...

Calculo que daqui a uns anos, quando - espero eu! - receber a visita dos meus netos, também eu estarei a contar peripécias e acontecimentos e aventuras e desventuras com pormenores que não serão entendíveis para ninguém para além de mim próprio. E mencionarei, pormenorizadamente, os olhos e os sorrisos e as lágrimas e as mãos de quem estava comigo em cada um desses momentos, em cada uma dessas vidas partilhadas. Não porque os recorde com saudade. Mas porque continuarão a ser, infinitamente, parte de mim.

Ainda que tudo o mais possa vir a ser esquecido, gosto muito da ideia de recordar para sempre os tantos que me fazem mais eu.

Todos os dias.

20160427


Convivi com a Samaritana durante todo o ano. Conheci-lhe as voltas, debrucei-me sobre os seus pormenores, aprendi a linguagem que permanecia escondida, deliciei-me com a sua simplicidade, falei da sua atualidade. Ter que a transmitir quase todas as semanas fez com que a olhasse uma e outra vez e apreendesse o que sempre me permanecera velado. Ou pouco importante. Recentemente, foi sobre o "Eia! Vinde ver um homem que me disse tudo o que fiz!" Porque seria tão importante para ela que Ele soubesse tudo o que ela tinha feito?

Conheço perfeitamente a resposta porque também eu, recentemente, o poderia anunciar àqueles de quem tão cuidadosamente me escondia.

Poder ser visto tal como sou, sem máscaras ou fingimentos, e ainda assim sentir-me amado é um privilégio que raramente conheci. Muito provavelmente por culpa própria, por desespero ou insegurança, por não me reconhecer do outro lado do espelho, por desejar sempre ser outro alguém que não eu, por invejar ter a sabedoria ou a calma ou quaisquer outras capacidades que os que me rodeiam têm, profusamente, ao seu dispor.

Poder dizer, olhos nos olhos, inteiramente e de peito aberto, o que me vai na alma, confiando absolutamente no amor que me será devolvido, confere-me uma serenidade até há pouco perfeitamente desconhecida, apesar de intensamente desejada... e procurada!

O amor, o verdadeiro amor, é, por isso, profundamente libertador. Quem se sente verdadeiramente amado não tem que entrar em joguinhos de aparências, não tem que se colocar em bicos de pés, não tem que usar máscaras que apenas nos afastam uns dos outros e de nós próprios. Quem se sente verdadeiramente amado vive feliz apenas por isso, porque sabe e sente que é verdadeiramente amado! Não se preocupa com posse, não perde tempo com esquemas de controlo, não questiona sequer se esse amor é correspondido, porque sabe-o, sente-o, vive-o, num sereno descontrolo de si próprio e da sua racionalidade.

E, aparentando o grande sossego marinho, quem se sente verdadeiramente amado vive intensamente feliz a mais turbulenta das tempestades!

20160421



Gosto quando me fazem sentir pequeno. Aliás, costuma ser nesses momentos que eu dou mais valor aos que me rodeiam... e me amam. Porque ser grande pode ser ilusoriamente bom, mas é sempre redutor. Ficamos confinados a nós próprios, aos nossos gostos e decisões, sem conseguir perceber a grandeza dos que nos rodeiam, que às tantas acreditamos ser nossa, e nos tornamos seres insuportáveis.
Li muito recentemente um blogue de alguém que não conheço mas que escreve como gente grande. Ou pequena. Porque escrever assim é de quem vive maravilhado com a vida, de quem se sente grato por poder testemunhar o dom da vida. E o sentimento de gratidão, quando genuíno, é outra das condições necessárias para a felicidade.
Isto está, aparentemente, tudo ao contrário, portanto.
Todos os dias nos apelam à fundamentalidade de sermos bons e perfeitos e exemplares e motivo de admiração para tudo e todos, e todos os dias nos sentimos um pouco falseadores da nossa verdade porque nos conhecemos e nos sabemos, no máximo, esforçados e puxados até ao limite de nós próprios, e todos os dias sentimos que transportamos as nossas desilusões e as nossas frustrações e os nossos receios de que os outros percebam que, feitas as contas, não somos assim tão bons quanto desejamos, aparentamos e por vezes até nos fazem crer.
Posso, com extraordinária facilidade - e verdade! - confirmar que o meu reino, hoje, não é deste mundo. Que o meu reino é muito mais protegido, muito mais saudável, muito mais verdadeiro. Que vivo rodeado de pessoas com extraordinárias capacidades mas que não fazem alarido delas, que gostam de se dar e de se partilhar e de ficar felizes quando se permitem apreciar a grandeza alheia. Até poderei admitir que isso não será evidente à vista desarmada, que isso será difícil de ver para quem vive mergulhado em datas e testes e avaliações. Mas quem, como eu, tem o privilégio de lidar todos os dias com o lado B das pessoas, que se desvelam, se destapam e se descobrem, sabe da imensa fragilidade inconfessada que a todos nos assalta e a todos nos limita. Basta ter pouco mais que um minuto, basta ter a possibilidade de sentar e conversar um pouco, e o véu com facilidade se levanta.

20160420


Sempre fui muito mau a viver aos pedaços. Esparramado, quero eu dizer: um bocado aqui, outro acolá, outro ainda mais ao fundo, provavelmente mais escondido, para que apenas alguns possam ver. Até poderá ser mais cómodo, mais resguardado, mas, pelo menos para mim, altamente problemático. Com facilidade confundiria o que deveria ser para quem e às tantas metia os pés pelas mãos. Eu sei como é. Já estive lá. Por isso há já algum tempo que decidi deixar-me dessas coisas e assumir de cara levantada e olhos bem abertos o que sou independentemente das circunstâncias. E o mais curioso é que fui descobrindo que, não raras vezes, o único que se preocupava com isso era justamente eu. E isso foi (ainda mais) libertador.

Sempre tive, no entanto, alturas em que senti que me eram arrancados pedaços de mim. Escolhas que faço que implicam compromissos, que implicam rumos e atitudes e ações concretas que têm consequências concretas sobre pessoas concretas e me impedem de ser e fazer tudo o que desejaria ser e fazer, até para ser e fazer o que devo ser e fazer.

Se há algo que me identifica comigo próprio é esta necessidade sempre presente de viver apaixonado. Pela vida, sim, num sentido lato, mas muito mais por pessoas, concretas, palpáveis, num sentido muito mais restrito. Identificar alguém numa canção, numa paisagem, num livro ou cena de filme, ter aquela vontade quase incontrolável de partilhar aquela sensação de plenitude e alegria e vida intensa que transborda, poder ter a certeza de despoletar sorrisos ainda que apenas vistos na imaginação recorrendo ao baú das memórias boas, é algo que raramente perdi e desejo nunca mais voltar a perder. Viver por viver, para ver passar os dias, à espera do que vem ter connosco, nunca foi muito a minha escolha.

Esta sofreguidão, esta paixão, esta ânsia de viver, no entanto, tem custos. Como tudo. E por vezes são altos. Por vezes tenho a sensação que necessitaria de muitas mais vidas para além desta que me foi concedida para poder desfrutar verdadeiramente da minha paixão. Por vezes apetecia-me ser mais que um para poder ser tudo em todos e com todos. Por vezes apetecia-me que os compromissos não fossem mais compromissos e que todos os pedaços de mim largassem o espartilho e se espalhassem como se eu pudesse continuar a ser um dessa forma. Não posso. Sei que não posso. Não quero. Também sei que não quero. Quando paro, quando penso, quando sereno, sei que não quero. Porque quando paro, quando penso, quando sereno, sei perfeitamente o que quero: ser quem sou, de cara levantada e olhos bem abertos.

Ah: e pés no chão (embora a alma teime em voar, Graças a Deus!)

20160416


Ontem tivemos mais uma oração do ComTigo. Cheguei a casa pouco faltava para a meia noite, depois de ter saído pouco depois das sete dessa manhã. Foi um dia cheio, com Dia de Reflexão, com tentativas de recuperar trabalho acumulado, com Encontro, com as pernas pesadas do cansaço e o coração cheio da alegria. Fecho os olhos e não consigo imaginar uma vida melhor que esta. A correria, o sufoco, a imensidão de coisas para pensar e preparar e fazer são largamente compensados quer pelos adultos extraordinários com quem aprendo sempre, quer pelos miúdos extraordinários com quem aprendo sempre. E depois há momentos, como o de ontem, que serão recordados porque todos aqueles que tiveram o privilégio de lá estar.

Ontem, como na Via Sacra, lembrei-me de Francisco de Assis. Não tivesse eu aquela malta à minha espera e teria ido para casa, refastelar-me no sofá, a vegetar, e teria ido para a cama, provavelmente ainda mais cansado do que fui. É certo que hoje as pernas doem, que os olhos vão lutando para poderem fechar um bocadinho que seja, e a cabeça anseia pelo tão desejado descanso. Mas é mais certo ainda que me sinto vivo, e feliz, e cheio de esperança, e de alegria.

Disseram-me ontem que o mais velho dos meus rapazes é igualzinho a mim. Apesar de nunca o ter reparado, suspeitei que assim seria quando ele, há cerca de um mês, quando estava justamente com quem mo disse ontem, me enviara um sms "provavelmente sou mais parecido contigo do que desejava". Sorri ao ler aquilo porque desde sempre ele se comparou comigo e desde cedo me tentou ultrapassar em tudo e desde muito cedo o conseguiu com extraordinária facilidade... e competência. E sorri. Já vamos no segundo fim de semana em que estamos sem ele e no próximo também voltaremos a estar. Não sei a quem é que ele sai mas também está mergulhado de cabeça em retiros e orações e em grupos e em ações de solidariedade e voluntariado. No pouco tempo que para em casa tenho-lhe visto as mesmas pernas pesadas, o mesmo cansaço no corpo e a mesma teimosia dos olhos, que se fecham à primeira oportunidade, sedentos de descanso. Mas também lhe tenho a mesma felicidade estampada no rosto, o mesmo entusiasmo quando conta o que aconteceu durante o fim de semana, e o mesmo sorriso aberto de quem confia na vida e no futuro.

Não lhes podia ter deixado maior legado!  

20160415



Por vezes, os meus sonhos assustam. Num outro tempo, que por vezes mais perece uma outra vida, era a mim que os meus sonhos mais assustavam. O espelho apenas me devolvia resignação, o que em tudo contrastava com o imenso que me faltava fazer, com a premente vontade de partir - para desejar voltar? - sobretudo com a omnipresente insaciedade que me impedia o sossego interior. Porque é sobretudo de interior que se trata. E isso por vezes chega a envergonhar-me. Como explicar que ainda sonho? Como tentar fazer perceber este desejo de partir? Como conciliar isso com quem requer a minha presença, total e absoluta, incondicional e ilimitada, ainda que seja por amor? Como justificar esta sede que nunca acaba, a quem vive saciado?

Sinto que passei um longo período de redescoberta. Provavelmente, mais de aceitação até, mas que me conduziu a uma redescoberta. De mim. Aceitação que ainda sonho, para começar. E redescoberta da minha própria insaciedade. E vontade de não me resignar.

Cresci numa família para quem o sonho maior era a lotaria. Ou o totoloto. Ou uma herança qualquer de um qualquer tio velhinho que nem sabíamos que existia mas que nos pudesse salvar de nós próprios e do atoleiro em que vivíamos mergulhados. Convivi desde sempre com rifas e apostas e jogo que apenas servia para apostar cada vez mais alto e perder cada vez mais dinheiro e sonhar com um tio ainda mais rico ou o euromilhões porque já nem o totoloto nos safava. É algo que se cola à pele porque, sem que nos apercebamos disso, os cifrões rapidamente nos roubam o sonho do futuro conquistado à custa de trabalho. E como jogo é sorte e azar, os outros, os que vivem bem, os que conquistaram o presente à custa do trabalho, apenas o conseguiram graças à sua sorte. E ao nosso azar. Quem contacta com os jovens e os adultos do RAIZ percebe claramente isto.

Não foi há muito tempo que me apercebi que a substância dos meus sonhos tinha mudado. Que não sonhava já com tudo o que o dinheiro pode comprar, que já não viajava com os olhos abertos quando caminhava na foz junto daqueles apartamentos à beira mar, que era, simultaneamente, muito mais simples e extraordinariamente complicado aquilo com que sonhava. Simples porque estava ao meu alcance; complicado porque deixava de ter a sorte ou o azar como desculpa. Dependia apenas da minha vontade.

O meu sonho dava-me assim um banho de realidade.

Irónico, não é?

Sim. Ainda sonho, ainda desejo, ainda tenho muito a cumprir.

Só agora (re)comecei ;-)

20160408



Nos filmes, poucas coisas me comovem tanto como os obituários. Então se for de alguém que deu a vida, que se sacrificou, que se entregou para lá do seu limite, desfaço-me em lágrimas.

Talvez influenciado pela minha companhia mais constante da infância - os meus preciosos livros de BD - acreditei sempre que era melhor morrer dignamente que viver a qualquer preço. Ansiava (anseio?) por um funeral como nos filmes, com amigos à minha volta, não a chorar porque tinha morrido, mas cheios de memórias boas de mim para partilharem entre si, por entre gargalhadas e boa música.

Ontem assisti ao mais belo obituário que alguma vez ouvi. "Morreu aos 95, teve uma vida cheia, com muitos filhos, com muitos netos, com muitas pessoas que o amavam e que o recordarão para sempre". Pensei imediatamente nos meus filhos, no que eles dirão de mim nesse dia. Mais que qualquer outros, importa-me o que sentirão eles nesse dia. O que dirão de mim aos seus filhos, e aos seus netos. Claro que os outros são importantes, têm imenso peso na minha vida, na forma como me acompanham e preenchem os dias, na forma como me preenchem o coração e a vida, na forma como me ajudam a construir o meu legado. Mas no fundo é esse legado, o que verdadeiramente me importa. Na medida em que seja resultado da vida vivida, de vida partilhada, intensamente, autenticamente, sem amarras nem rodeios.

Arrependo-me sempre quando falo demais. Há uns tempos disse, para sustentar a minha tese, que o bem estar dos filhos não justificam tudo, muito menos o sacrifício de uma vida. Idiota. Neste momento, não consigo descortinar melhor motivo para se viver. E morrer!

20160407


Há já algum tempo que aqui não vinha. Até poderia argumentar que tinha sido por falta de tempo. É daquelas coisas que fica sempre bem na superficialidade, mas simplesmente não era verdade. Nunca o foi, aliás, que eu sempre encontrei o tempo necessário para o que me é fundamental. E essa é a melhor razão, a mais plausível, pelo menos: não me era fundamental vir aqui. Andei muito por outros lados, fundamentalmente a cuidar. Dos meus. Muito mais que de mim, andei a cuidar dos meus.

Não costumo ser um cuidador. Pelo menos, não por muito tempo. Até posso ser atento, até posso ser preocupado, até consigo encaminhar para algum tipo de solução, mas essa solução, normalmente, implica que eu sai do processo de cuidar. Vou acompanhando, com maior ou menor distância, mas, normalmente, não sou eu quem cuida.

Fui-o desta vez. Sou-o desta vez.

Não é melhor nem pior, é diferente. Ter que ficar permanentemente atento, ter que me desinstalar, ter que ser proativo e sorrir sempre e ser caminho sempre e cuidar sempre, é diferente. Exige uma maior presença física, uma maior e mais pormenorizada atenção, uma descentralização do que costuma ser, do que tenho por hábito ser, até da forma como que habituei a ser e a ser visto.

Em tudo isto, a doce companhia da serenidade. Particularmente depois do reencontro. Do meu lugar, do meu papel, das minhas próprias expectativas devidamente ajustadas à minha realidade, pés devidamente colocados sobre o chão que piso.

Bambora

  Não é estranho que nos digam que «ser homem é muitas vezes uma experiência de frustração». Mas não é essa toda a verdade. Apesar de todos ...