Acolher, Discernir, Transformar, Retribuir, Agradecer

Os meus começos são sempre sonho. Depois poderão passar a projetos, mas em primeiríssimo lugar são sonhos. E gosto que o sejam. Porventura não demasiado ligados à realidade, porventura prenhes de impossibilidade, porventura irrealizáveis. Pouco importa. A vida vivida encarregar-se-à de me recolocar no lugar, de ajustar as expectativas, de me confrontar com os meus limites. 

Os meus começos têm sempre um percurso idealizado, com etapas mentais onde, no começo - e quase sempre apenas no começo - tudo encaixo para que tudo faça sentido, para que eu possa crescer, para que eu possa manter a ilusão que o tempo traz consigo mais sabedoria. Este ano, este começo, tem também o seu percurso, uma espécie de mantra que procurarei recordar em cada dia: Acolher, Discernir, Transformar, Retribuir, Agradecer.

Ontem, enquanto arrumava a cozinha, olhava para a esponja que tinha na mão. A forma como o líquido da loiça desaparece em si e se mistura com a água que cai da torneira, como a mistura que daí resulta serve para desengordurar e limpar a loiça, por mais suja que ela esteja e, finalmente, o seu retorno à essência, depois de se voltar a passar por água. Posso aprender com a esponja este deixar-me impregnar, este tornar-me prenhe do que me é dado; esta permissão para a permeabilidade sem perder a essência, esta capacidade de transformar e de devolver, retribuir, para tornar as coisas melhores, mais limpas, mais ricas, prontas para nova vida.

Acredito que a capacidade de acolher, sejam pessoas, sejam acontecimentos, é mais que meio caminho andado para a felicidade, Tornar meu, incorporar, interiorizar, ao invés de batalhar contra o que vem ao meu encontro, permite-me a serenidade imprescindível para o discernimento. Deste acontecimento, desta pessoa, desta palavra, o que é para guardar, o que é para deitar fora, o que é para transformar e enriquecer? E como o posso fazer, como o posso transmitir, com que gestos, com que palavras, com que atitudes posso envolver os outros nessa aprendizagem? E, no final, Agradecer, a outra mais de metade do caminho para a felicidade. Quem agradece, quem sente, vive e transmite a gratidão que emana das entranhas sabe-se mútuo, sabe-se companheiro e acompanhado, sabe-se mestre e aprendiz, sabe-se caminhante e caminho, sabe-se legado e herdeiro, parte imprescindível de uma realidade que vai infinitamente para além do próprio umbigo. 

Acolher, Discernir, Transformar, Retribuir, Agradecer. Eu avisei: os meus começos são sempre sonho! Qualquer coincidência com a realidade é pura teocidência.

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