20180814


Sinto muitas vezes que o meu caminho é mais feito de dessincronias que de encontros. Apesar de serem imensos os encontros. Talvez seja como se procurasse sempre e raramente encontrasse, pelo menos de forma definitiva, ou que então o definitivo acabasse inevitavelmente por se transformar em efémero, permanecendo no entanto a vastidão da memória.

Há momentos, mais que fases, momentos, em que a sintonia me invade a alma. Como se estivesse tudo no seu lugar, como se o universo conspirasse para que as coisas, todas as coisas, ocupassem o lugar que lhes estava destinado dentro de mim. As dores são lidas como aprendizagens, as saudades como boas memórias, os medos como desafios, os trabalhos como projetos de felicidade. Tudo flui, tudo conflui assente na argamassa do amor profundo.

Nestas alturas apetece-me gravar a tranquilidade, a pacificação, a serenidade, a sabedoria do viver para que a possa usar quando lhe sentir a falta. Alimento em mim, permanentemente, a ilusão que agora é que é, que o equilíbrio que me habita veio de Toyota, para ficar. Talvez permaneça. Talvez não. Para já, permanece o agradecimento a Deus, à Vida, e aos que me habitam, esta íntima serenidade que julgava arredada de mim.

20180808



Junto de mim, ao meu lado, permanecem aqueles que, apesar de mim ou por mim, escolhem ficar, em cada um de todos os dias, pacientemente, por vezes até ao limite do desespero, como é próprio do amor enraizado nas entranhas. É desse amor que tudo brota. É a consciência da permanência desse amor que tudo permite.  Vivesse eu constantemente preocupado com o chão e jamais me permitiria voar. E como me é fundamental poder voar!
Há uns anos disseram-me que eu apenas sinto vontade de partir para poder voltar. E eu sei que mais importante que partir é este desejo constante de regressar, de me saber esperado, de me saber saudade, de me saber desejo, e de, em cada regresso, me sentir reacolhido de braços e coração escancarados. É certo que nunca sem uma boa luta, nunca na facilidade da indiferença, mas na exigência, na dura prova de quem quer sempre saber quem se ama, porque se ama, contrariando a dor de amar, mas se calhar preciso disso mas me saber imensamente amado
É nesta permanentemente periclitante certeza de amar e, sobretudo, de me sentir amado, que me encontro e à minha vida. É nesta ternura feita de pequenos almoços no silêncio de uma paisagem edénica, nesta pacatez das caminhadas onde tudo em nós conflui, neste testemunhar da vida que germina naqueles que são a nossa vida, é nesse imenso infinito, que eu sou.

E no fim de contas, no fim de cada um de todos os dias, com sorte no fim da vida, é este imenso que apenas importa. Porque é apenas este o imenso que me faz verdadeiramente feliz.


Bambora

  Não é estranho que nos digam que «ser homem é muitas vezes uma experiência de frustração». Mas não é essa toda a verdade. Apesar de todos ...