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Eu tenho um modelo. De vida, de modo de ser e fazer. Bem claro, bem concreto, bem definido. Bem presente, no meu quotidiano, no meu olhar, na minha forma de olhar. Jesus não é, por isso, apenas uma personagem histórica entre tantas outras personagens históricas que estudo, que conheço, que admiro profundamente e tento até imitar. Eu não tento imitar Jesus. Eu tento, empenho-me, esforço-me em me deixar moldar por ele, transformar-me por ele, ser ele, sabendo que ainda que vivesse setenta vezes sete vidas, jamais seria digno de ter os meus pés por ele lavados. Mas esta é uma perda por comparação da qual saio sempre vitorioso porque, ainda que eu não consiga ser como ele, só o facto de o tentar, e tentar sempre, faz de mim alguém melhor. Ser cristão, ser católico, não é por isso apenas mais um aspeto da minha personalidade. É o fundamento, a base, a pedra angular a partir da qual tudo é, em mim, por ele edificado.

Acolher, qualquer que seja a circunstância, qualquer que seja a situação, é a atitude fundamental que eu vejo em Jesus. Todos os seus gestos, todos os seus caminhos, todos os seus ensinamentos, toda a transformação pessoal e pessoalizada por si feita foi conseguida através do acolhimento. E fazia-o de forma extraordinariamente simples: encontro - escuta - libertação - envio. Sem filosofias bacocas, sem moralismos vãos, sem regras impossíveis e inamovíveis. Tendo apenas como premissa principal a vontade, o desejo, a necessidade visceral de ser visceralmente amado. E a liberdade íntima, profunda, igualmente visceral, de o aceitar ou recusar.

Podem imaginar, por isso, o incómodo, a dor, quando os meus filhos testemunham que a Igreja em que os educamos, que eu amo e da qual faço parte tem, ainda hoje, gestos que contradizem em tudo esta maneira de acolher e amar que Jesus nos ensinou.

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