A vida é o que é e vou percebendo que, apesar das minhas fantasias, saber ler as circunstâncias permite-me traçar rumos e calcorrear melhores caminhos. Ontem foi dia dos avós e não pensei nos meus mas nos dos meus filhos. Quanto aos meus, não há muito a dizer. A Teta tem o património exclusivo da ternura dos avós na minha vida, e mesmo nesse caso, foi porque, por minha iniciativa, nos aproximamos no final da sua vida. Fora isso, não haveria muito a dizer. Não tenho memória alguma do avô materno, tenho uma memória muitíssimo ténue do meu avô paterno e a que tenho da avó paterna é tudo menos agradável... apesar de ser minha madrinha. Houve alturas - muitas! - em que o meu maior desejo era ter avós e pais normais, como os dos meus amigos, como via nos filmes, como lia nos livros. Não era isso que acontecia, nunca foi, a não ser quando tivemos a nossa própria família, que pudemos construir e educar segundo aquilo que entendemos como o melhor. E foi, durante muito tempo, uma mágoa. Que se acentua invariavelmente nos dias especiais. Nestes dias - do pai, da mãe, dos avós - à medida que vou vendo as partilhas na redes sociais, que vou vendo e lendo as reportagens que proliferam na comunicação social, acabo sempre a concluir que o defeito é meu. Que devo ter uma hipersensibilidade qualquer que me impediu sempre de os ver como devem ser vistos, que, nisto como em muitas outras coisas, há uma certa baralhação entre o real e o imaginário que me habita. Á medida que o tempo passa por mim vou assentando os pés na terra e vou-me esforçando por valorizar o que tive - e terei não por muito tempo. Faço uma releitura dos acontecimentos mais marcantes e tento fazer incidir sobre eles uma outra luz, que me permita ver o que até então permaneceu escondido. Nem sempre o consigo. Nem sempre permito que a mágoa dê lugar a boas memórias. Provavelmente porque nem sempre as consigo descortinar por entre os acontecimentos, ou a memória que tenho deles. No entanto, é um exercício importante. Porque mesmo quando a mágoa permanece, incorporo-a, dou-lhe as boas vindas, torno-a parte de mim. Porque a mágoa, particularmente no que diz respeito à família que era antes da minha, faz parte de mim. E eu tenho que viver com ela. O melhor que sei.
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