Saborear. Esta é a palavra chave: saborear. Chego demasiadas vezes à conclusão que a expectativa dá cabo de tudo. Que se estiver aberto ao que é, e menos ao que gostaria que fosse, vivo melhor porque vivo mais feliz. E saboreio o que a vida me dá em vez de me frustar.
Há uma parte de mim que é mais ou menos obsessiva. Gosto do processo de organizar. E organizar é antecipar cenários: aqui acontecerá isto e eu precisarei daquilo naquelas condições. Pode ser contraditório com o saborear, mas é justamente essa antecipação de cenários que me permite depois saborear melhor. Porque, pelo menos para mim, saborear e acaso não conjugam. Eu preparo antes para poder saborear quando as coisas acontecem, à medida que as coisas acontecem. E se acontecerem à minha medida, melhor.
Quase sempre, não reajo bem ao imprevisto. O meu primeiro impulso é quase sempre barafustar. Estava tão bem! Estava tudo tão bem pensado! Tinha tudo tão preparado! Expectativa, expectativa, expectativa! A minha sorte é que, logo após a esta reação instintiva, normalmente consigo encaixar a realidade nos diversos cenários antecipados e reagir adequadamente.
Passei estes últimos dias de férias a preparar o próximo ano. Faço esquemas sobre esquemas, escrevo a mesma coisa várias vezes, na ânsia que as ideias, ao passarem para o papel, deixem finalmente a minha cabeça em paz. Escrevo e reescrevo, leio, organizo, preparo. Sabendo - porque a vida mo permite saber - que, logo que o apito soe, pouco acontecerá como tinha antecipado. Mas que, se não o tivesse feito, se não tivesse antecipado cenários e respostas aos cenários, não seria capaz de aproveitar a viagem. E isso, sim. Sempre foi para mim o intuitivamente mais importante: saborear cada momento da vida que me é dada a viver. Esquecendo os cenários. Esquecendo as expectativas. Aproveitando a vida.
Confuso? Sim, este sou eu.

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