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O meu amigo frequenta uma igreja de imigrantes caribenhos no centro de Los Angeles. Um dia, o seu pastor pregou: 

Imaginem que estão a passear na baixa de Los Angeles, ou em Chicago, ou em Nova Iorque. Um homem nu corre à vossa frente no passeio, gritando e praguejando. O que é que fazem? A maior parte de nós, claro, atravessa a rua rapidamente. O tipo não está bem, pensamos nós. 
Mas imagine que vive numa pequena cidade com cerca de cinquenta casas. Um dia, está a passear quando um homem nu passa à sua frente no passeio, a gritar e a praguejar. E como vives numa cidade pequena, conheces esse homem... é o Henrique. Na semana passada, por acaso sabes, houve uma tragédia terrível e o fogo queimou a casa do Henrique, deixando-o sem nada. O que é que tu fazes?  “Henrique”, dizes tu, “vem comigo, amigo. Precisas de uma refeição quente e de um lugar seguro para ficar”.  

O que é preciso para mudar a nossa consciência colectiva de estranho que não está bem para Henry, o meu vizinho, criado à imagem de Deus? 

O desafio é imaginar uma realidade fundamentalmente diferente: um mundo em que reconhecemos e lutamos pela dignidade uns dos outros. Um mundo em que ... treinamos os nossos corações para ver até mesmo as pessoas que os outros podem tornar invisíveis. Um mundo em que reconhecemos que nós - imagens do Divino - estamos todos ligados uns aos outros pelos laços da vida. E o nosso trabalho mais difícil e mais sagrado é não desviar o olhar.

https://cac.org/daily-meditations/knowing-our-neighbors/

Este é sem dúvida, um dos meus desafios maiores: não desviar o olhar. Ainda vivo muito de acordo com a lógica dos meus e dos outros. No fundo, no fundo, acredito que a radicalidade do serviço ao outro exige total dedicação, exige libertação total das amarras a que nos prendemos, das responsabilidades outras que assumimos em função das escolhas que fazemos. Quando penso nesta radicalidade penso sempre na Madre Teresa de Calcutá. Menos que isso já é compromisso, já é distração, já é outra coisa. A dedicação total pelo outro exige uma liberdade que eu não tenho. Porque tenho mulher e filhos e reuniões e encontros e compromissos e fiz escolhas diferentes. Por isso as pessoas consagradas são tão importantes, tão decisivas, na vida da Igreja. De que outra forma se pode ser radicalmente do outro que não se conhece? Mas, ainda assim, mesmo nas minhas circunstâncias, mesmo nos meus compromissos, quem me dera sair vencedor de mim mesmo e permitir-me olhar!

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