20240531

Não há momento, na minha vida religiosa, que necessite tanto do meu salto de fé como a eucaristia. Eu acredito na Eucaristia. Eu necessito da eucaristia. Muito. Acredito em Jesus à volta da mesa, acredito na partilha, acredito na comunhão, acredito na comunidade, acredito no companheirismo, acredito no reconhecimento, acredito do Cristo que nos habita, acredito que o Espírito Santo está efetivamente entre nós...

Mas já tenho muita dificuldade em acreditar quando me dizem: ajoelhai-vos, está a passar o rei do universo, tenho muita dificuldade em acreditar que o sacerdote não possa tocar no ostensório quando, momentos antes, na consagração, tocou no Corpo, tenho muita dificuldade em acreditar nas procissões, no pálio, em toda aquela ostentação que nos pede para olharmos para o chão e vez de olharmos uns para os outros. Quando testemunho tudo aquilo penso logo no Deus do Antigo Testamento, que nos exige submissão e não nos oferece amor. Imagino Jesus a descer o Monte Sinai e a ver-nos, embasbacado e magoado, a continuar a adorar com símbolos um Deus que Ele nos disse que é Pai. 

Ontem participei na eucaristia, não participei na procissão. Sinto-me sempre mal, muito pouco genuíno, quando percebo que também eu faço parte de todo aquele aparato, do qual não acredito, com o qual não concordo e que nada tem a ver com a minha fé em Jesus. Esta não é a Igreja a que pertenço. 

Eu sou do pequeno. Do simples. Do quotidiano. Do comum. Do olhos nos olhos. O aparato é coisa dos homens, de quem precisa do "de cima para baixo", de quem se acha herdeiro do "de cima para baixo", de quem se acha gestor do "de cima para baixo". E estes, claro está, nunca estão em baixo. Eu prefiro o de dentro para fora. Eu prefiro Jesus à Igreja. E esta distinção deixa-me, invariavelmente, muito triste.

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