“Já há demasiadas bichas”. Esta foi a declaração que percorreu o mundo e porquê? Porque foi proferida pelo Papa Francisco. A informação foi avançada pela imprensa italiana e dava conta de que o Papa usou o termo italiano “frociaggine”, uma espécie de calão que em português se aproxima de algo semelhante a "bichas" ou “maricas", proferida no passado dia 20 durante um encontro à porta fechada com bispos italianos.
O Vaticano já reagiu e pediu desculpa pelas declarações do Papa Francisco. Em comunicado emitido esta terça-feira, e divulgado pela agência italiana ANSA, lê-se que "o Papa nunca teve a intenção de ofender ou de se exprimir em termos homofóbicos, e pede desculpa a quem se sentiu ofendido pelo uso de um termo referido por outros.”.
“Como ele afirmou em várias ocasiões, 'Na Igreja há lugar para todos, para todos! Ninguém é inútil, ninguém é supérfluo, há lugar para todos. Tal como nós somos, todos nós”, pode ler-se no comunicado.
Os lapsus linguae são tramados. Porque, mais cedo ou mais tarde, tramam todos os que dizem coisas sem convicção, na casca, no politicamente correto, e que não está em sintonia com aquilo em que se acredita. O jargão popular diz-nos que se apanha mais rapidamente um mentiroso que um coxo, e isto é bem verdade. Na semana passada foi o presidente do Sporting que, falando supostamente em off, disse que não pretendia apenas vencer, mas esmagar o FCP. Agora o Papa, com a questão dos "maricas". Um e outro estavam à vontade, em off, e permitiram-se dizer aquilo que realmente pensam. Nada que não aconteça comigo. Também eu, por vezes, sou grosseiro, sobretudo junto daqueles que me são mais íntimos e com quem me sinto particularmente à vontade. Sou, o que se diz, um desbocado: nas condições certas, as coisas saem pela boca sem passar pela cabeça. Por isso normalmente tenho tanto cuidado comigo, por causa do cheiro a bairro que me está entranhado. E isto é um problema. Ou pode ser. Poderia ser até bom se o que digo nessas circunstâncias correspondesse ao que efetivamente penso. Mas corresponde mais ao que sinto naquele momento que ao que penso. E o que sinto é quase sempre brincadeira, é o à vontadinha, o clima de laracha, o despertar do riso e da alegria partindo do princípio que, como estou entre os meus, todos me conhecem o suficiente para conseguirem destrinçar o que digo a sério do que digo a brincar. Não me aprece que tenha sido esse o caso do Papa Francisco. Parece-me que ele, provavelmente, estaria mais cansado, mais à vontade e, sobretudo, com menos filtros. E disse exatamente o que pensa. Há um lado, no padre Francisco homem, que acredito seja instintivo e contraria o institucional Papa Francisco fofinho: sobretudo quando fala das mulheres e dos homossexuais tem muita dificuldade em conciliar o seu "Todos, todos, todos" - que, acredito, é o que vai ficar para a história e se vai tornando uma armadilha fatal para ele próprio - com, efetivamente, todos. Quanto se lhe é colocada esta questão ele dá voltas e mais voltas sem responder claramente e eu lembro-me sempre da nova ordem da Quinta dos Animais, do Orwell: "todos os animais são iguais... mas uns são mais iguais que outros". A verdade é que temos, todos, todos todos, ainda muito para caminhar.
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