20200305

rezar





Há, no ver a rezar, uma experiência de comunhão que ainda me é difícil entender e explicar. 

Entramos na Capela do Silêncio, em Taizé. Agora remodelada, a Capela do Silêncio faz ainda mais jus ao seu nome. Não somos já perturbados nem pela pancada da porta a abrir e fechar, nem pela invasão da luz exterior num espaço que é permanentemente pouco iluminado. Tudo aqui privilegia o Encontro. A luz baixa, o silêncio sepulcral, a forma como todos se deslocam, fazem com que qualquer movimento, qualquer som, por ínfimo que seja, perturbe. Em conversa com um dos nossos miúdos ele dizia que se tinha sentido mal lá porque o som do fecho a abrir o seu estojo lhe era quase insuportável. Na realidade, tudo ali nos conduz ao silêncio, ao nada dizer, ao nada fazer, ao simplesmente escutar, a mais das vezes o diálogo ensurdecedor que apenas acontece dentro da nossa cabeça. 

Entramos na Capela do Silêncio, em Taizé. A um canto estava o indivíduo da foto, em silêncio, de olhos fechados, presumivelmente a rezar. Não o conheço, não o tinha visto antes, e provavelmente, ainda que nos reencontremos algures na vida, não o reconhecerei porque na verdade nada mais vi senão o seu perfil. Não sei se é católico, protestante ou ortodoxo. Não faço ideia sequer se é homem de fé ou se apenas se foi abrigar da chuva intensa que caía lá fora. Não conheço o seu percurso de vida, os valores por que se pauta, se é de esquerda ou direita, a sua orientação sexual, os seus defeitos e virtudes. Dele, nada sei e, com toda a probabilidade, nada saberei. 

E, no entanto, é imenso o que nos une!

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