Estivemos ontem, mais uma vez, a assistir à eucaristia da minha paróquia pela internet. E, mais uma vez, assistir foi o termo correcto. No final da eucaristia fomos conversando acerca dela. A minha sogra, que assistiu connosco porque ligo o computador à televisão e ela pode ver e ouvir melhor, é pró nesta coisa de telemissas e levanta-se e senta-se e responde exactamente como se estivesse lá presente. Dissemos até na brincadeira - que ela não gosta, porque "Graças a Deus muitas; graças com Deus poucas" - que se houvesse maneira de distribuir a comunhão pela televisão ela colocaria a língua de fora para comungar. Nós temos outro tipo de atitude: sentados no sofá, meios a assistir, meios a participar, particularmente atentos apenas à homilia do nosso pároco, que nos ensina sempre imenso.
Enquanto a missa decorria eu pensei imensas vezes em como a "Querida Amazónia", a Exortação Apostólica do Papa Francisco, ficou tão aquém do que se pretendia. Agora que experimentamos as missas sem sacerdote, e à distância, agora que experimentamos a ausência da comunidade, agora que experimentamos a frieza da ilusória proximidade das telemissas, talvez consigas perceber um bocadinho melhor como as coisas podiam ser diferentes. Tal como discutíamos em casa no final da eucaristia, se no início da Igreja o que "fazia" a Igreja, o que era presença activa de Deus, o que era Sacramento, era a comunidade reunida para celebrar a Palavra de Deus, há qualquer coisa de muito estranho quando a comunidade está reunida, presente, a querer celebrar, e depois assiste, sem poder participar, à comunhão quase exclusiva do sacerdote. Há algo de inversão no meio de tudo isto, numa sensação de estranheza que eu apenas sinto porque estamos a viver uma situação inimaginável há poucas semanas atrás. Imagino, só posso imaginar, o que sentirá uma comunidade de fé num qualquer lugar recôndito do mundo, que se reúne para viver e celebrar e partilhar a fé, que é orientada por alguém com uma fé reconhecidamente madura, mas a quem é vedada a comunhão do Corpo e Sangue de Cristo porque esse alguém é casado ou mulher.
Creio que estes tempos, diferentes, nos fazem experimentar o diferente, e que bom seria se nos levassem a um caminhar diferente. Mais próximos das origens. E de Deus!
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