Provavelmente será da idade, que sabiamente atribui peso ao que antes
era leve, mas um dos grandes privilégios do meu dia de aniversário é
fazer a revisitação da imensidão das pessoas que me habitam. Os parabéns que me enviam pelas diversas redes sociais têm gente dentro, têm olhos e conversas e
cantorias e caminhadas e partilhas. O meu aniversário tem sido, graças a isso, um rememorial, um revisionamento daquele que tem sido o meu percurso de vida, uma vida que, como dizia tantas vezes o Padre Almiro, mais vale que seja gasta que enferrujada. Viver com quem vivo, viver como vivo, é uma Graça imensa e gratidão tem sido o sentimento que mais tenho por companhia neste dia.
Isto é tanto mais curioso quando eu recordo com facilidade como eu detestava este dia. E, nisso como em tudo na minha vida, o mérito da Isabel e da filharada é decisivo. Empenha-se de uma forma ainda mais afincada para que eu me sinta verdadeiramente amado e para que sinta este dia como meu. E isso, confesso, para além de saber sempre a novo, é imensamente bom!
Uma das grandes questões da minha vida é a forma como irei ser recordado. A forma como permanecerei sempre foi, para mim, fulcral, o que é natural para o imaginário de um miúdo que tinha os grandes e épicos romances como companhia. O meus heróis souberam sempre que morrer na batalha valia a pena, sobretudo se aqueles por quem morreram recontarem a sua entrega nas conversas à volta da fogueira, aí onde os grandes feitos são perpetuados por entre noites frias e almas quentes. No meu imaginário - que permanece de certa forma infantil e sonhador indiferente ao passar do tempo - o meu dia de aniversário é, por isso, uma espécie de epitáfio antecipado que, paradoxalmente, me impulsiona para uma vida plenamente renovada.
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