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Sempre que, num programa de televisão, oiço a pergunta se alguém deve um pedido de desculpas ao entrevistador, raramente oiço a resposta. Porque penso na quantidade de pessoas a quem devo um pedido de desculpas.
Eu não gosto da palavra culpa e muito menos do que ela significa. Apesar da culpa que por vezes sinto. Ou se calhar por causa disso mesmo. Fiz e disse coisas profundamente infelizes, normalmente a pessoas que me eram e continuam a ser importantes. Quando olho para trás, não são poucos os momentos em que não me reconheço nas palavras, nos atos ou nos gestos, e isso causa-me vergonha. Houve um tempo, até, em que me era dificilmente olhar ao espelho por não me reconhecer na pessoas que via do outro lado. O sentimento de culpa é, por isso, em mim, algo com o que tenho que conviver no meu quotidiano. Por isso, quando oiço aquela pergunta, penso numa série de pessoas com quem gostaria de voltar a conversar, olhos nos olhos, para tentar resolver algumas coisas.
Não consigo alterar o passado nem o efeito que provoquei na vida das pessoas, mas para mim é importante, volta e meia, deitar-lhe um olhar atento e perceber o que foi fruto das circunstâncias e o que constitui falhas de carácter. Ás primeiras apenas posso ficar atento para que a sua repetição não provoque a minha repetição na asneira. As falhas de carácter, as coisas que fiz e disse que vinham mais de mim e dos meus medos e das minhas entranhas que das circunstâncias, essas sim, precisam ser profundamente analisadas e escrutinadas para que as possa atenuar. O que não pode acontecer - e acontece cada vez menos mas ainda com uma frequência que me desagrada e incomoda - é eu permitir que a minha cara não coincida com a careta.
E hoje, como ontem, como amanhã, é um bom dia para que isso não aconteça.

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