No início da pandemia, sobretudo no início do confinamento, haviam algumas expectativas no ar. Sabia que iriam ser tempos estranhos, muito estranhos, ainda para mais quando eu estou mais habituado à correria que à quietude. A primeira semana lembrou-me o primeiro dia de um retiro que eu fiz: apesar de meio perdido porque não sabia o que me esperava e sobretudo o que esperavam de mim, aproveitei para colocar o sono em dia, as coisas em dia, o trabalho em dia, e até o jardim ficou mais em condições. Rapidamente, no entanto, percebi que iriam ser tempos exigentes. Adaptações em cima de adaptações, novas formas de fazer, novas formas de contactar com tanta gente, e, sobretudo, procurar novas soluções para conseguirmos ajudar quem precisava ainda mais da nossa ajuda.
Como tudo isto cansa!
Hoje de manhã estava a olhar para a minha agenda para, apesar dos imponderáveis, tentar preparar o tanto que aí vem. Como sempre acontece - com incidência especial na fase final de cada ano lectivo - estava carregada de atividades e reuniões e preparações e encontros que, desta vez, não aconteceram. Eu próprio contava, por isso mesmo, estar menos cansado, menos preocupado, menos tenso. A verdade é que nada disso acontece. A incerteza do que se avizinha obriga a um esforço extra de atenção aos sinais, procura constante de respostas e foco na execução. Numa altura em que, normalmente, tudo corre em velocidade cruzeiro - até porque é o culminar de um ano devida e minuciosamente preparado - continuamos a realidade a lidar com a incerteza. E apesar de todo o compromisso, de todo o empenho, de todo o esforço, não raras vezes fica na boca um sabor a menos, a insuficiência, a impotência, face às necessidades dos nossos miúdos e das nossas famílias. E isso provoca um desgaste...
Se me perguntassem qual o ensinamento profundo que o COVID me proporcionou, eu responderia que tinha sido justamente este: a substituição da quantificação pelo valor intrínseco dos actos. Se alguém olhar para a quantidade de coisas marcadas na agenda que foram desmarcadas, não faz ideia do trabalho que foi feito. Porque esse, no essencial, não tem medida.
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