20160408
Nos filmes, poucas coisas me comovem tanto como os obituários. Então se for de alguém que deu a vida, que se sacrificou, que se entregou para lá do seu limite, desfaço-me em lágrimas.
Talvez influenciado pela minha companhia mais constante da infância - os meus preciosos livros de BD - acreditei sempre que era melhor morrer dignamente que viver a qualquer preço. Ansiava (anseio?) por um funeral como nos filmes, com amigos à minha volta, não a chorar porque tinha morrido, mas cheios de memórias boas de mim para partilharem entre si, por entre gargalhadas e boa música.
Ontem assisti ao mais belo obituário que alguma vez ouvi. "Morreu aos 95, teve uma vida cheia, com muitos filhos, com muitos netos, com muitas pessoas que o amavam e que o recordarão para sempre". Pensei imediatamente nos meus filhos, no que eles dirão de mim nesse dia. Mais que qualquer outros, importa-me o que sentirão eles nesse dia. O que dirão de mim aos seus filhos, e aos seus netos. Claro que os outros são importantes, têm imenso peso na minha vida, na forma como me acompanham e preenchem os dias, na forma como me preenchem o coração e a vida, na forma como me ajudam a construir o meu legado. Mas no fundo é esse legado, o que verdadeiramente me importa. Na medida em que seja resultado da vida vivida, de vida partilhada, intensamente, autenticamente, sem amarras nem rodeios.
Arrependo-me sempre quando falo demais. Há uns tempos disse, para sustentar a minha tese, que o bem estar dos filhos não justificam tudo, muito menos o sacrifício de uma vida. Idiota. Neste momento, não consigo descortinar melhor motivo para se viver. E morrer!
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