20241017

 Devemos passar de um “ser de” e um “ser para” para um “ser com”. Há uma verticalidade no "ser de" e "ser para" que é mais consentânea com uma relação de poder que com uma relação de amor. Na verdade, eu não sou "para" nem "de" Deus ou dos outros mas sou "com" Deus e "com" os outros. Esta horizontalidade, este "com", apela a uma comunhão, uma ausência de posse, uma aprendizagem mútua que conduz ao aprofundamento da relação, ao crescimento da intimidade e, por conseguinte, do amor. E ao reconhecimento. Tão importante!

No filme do Avatar o que retive mais não foi a tecnologia fabulosa mas o Na'vi "Oel ngati kameie" (I see you). O "eu vejo-te", sendo aparentemente simples, tem em si uma série de implicações absolutamente determinantes. O Papa Francisco chama-nos muitas a vezes a ver os invisíveis, aqueles por quem passamos e nem reparamos. E atrevo-me a dizer que esses nem sequer são os difíceis. Os particularmente complicados são aqueles com quem nos cruzamos frequentemente e que escolhemos ignorar, fazer de conta que não vemos, desejar que não existissem na nossa vida, Esses é que são o nosso desafio. Porque exigem uma proatividade que, para além da nossa atenção, apela à nossa vontade, ao esquecermos o ressentimento, e isso não é partir do zero mas do menos qualquer coisa para tentar construir algo de positivo. Neste caso, o eu vejo-te alia-se ao eu escuto-te e isso é já o eu sou contigo. Até o posso ser na discordância profunda, no desentendimento, mas isso é também aprendizagem, é mútuo contributo para o mútuo crescimento, é também "ser com".

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