"Que possas caminhar devagar" Parece fraco conselho. Pelo menos foi isso que eu senti quando o li, algures ameio do "Meia-Noite ou O Princípio do Mundo", do Richard Zimler. Como muitas vezes me acontece nas minhas leituras - há livros onde me demoro meses a fio - fechei-o e dei tempo e espaço para que esse conselho ecoasse em mim. E lá fui percebendo.
Durante estas duas últimas semanas pensei nesse conselho várias vezes. Na verdade, nem sempre me posso dar a luxo de caminhar devagar. O tempo urge, os afazeres também, e há uma espécie de urgência que, estupidamente, nem sempre é efetiva mas imaginária, interior, mais auto-imposta que ditada pelos acontecimentos. São rabos de palha, coisas que ficam cá por dentro e impedem de fechar e arrumar outras coisas que deveriam fazer já parte do passado roubando-me o sossego e a tranquilidade. E eu até tenho uma vantagem relativamente à maior parte das pessoas: nessas alturas gaguejo mais e quando me interrogo porque gaguejo mais reparo que a respiração é mais esforçada, menos pausada, e esse é um sintoma da intranquilidade que até então me passava despercebida. E que preciso de parar para escutar.
Poder caminhar devagar é, mais que um privilégio, uma forma de vida. Poder saborear o tempo, poder saborear o percurso do pensamento, poder saborear a oração, a tranquilidade, o silêncio, pauta muito o que pode ser o meu dia. Caminhar devagar é, assim, de alguma forma, definir o ritmo da passada da vida, não como dono e senhor do tempo - os donos e senhores nunca têm tempo para o tempo - mas como discípulo que escuta e procura perguntas.
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