Este é um tempo de humildade. Forçada, mas humildade.
Normalmente em grosso modo, sou em quem determina o que faço. Não nas pequenas coisas e nos pequenos momentos, mas o rumo que a minha vida leva nesta altura é o escolhido por mim e pelos que amo e me amam. É uma viagem, por isso, a várias mãos, a várias cabeças, a vários corações, mas é mais ou menos definido por nós. Quando isso acontece, existe uma certa sobranceria, porventura inconsciente mas subjacente, onde até as contrariedades são vistas como meros acidentes de percurso nesse rumo que se mantém.
Humildade?
Nos primeiros tempos da pandemia dava voltas à cabeça para tentar encontrar a melhor maneira de apoiar aqueles miúdos e famílias que nos estão confiados no RAIZ. E o sentimento de impotência era quase avassalador. Por muito que tentasse, não conseguia pensar em algo de significativo, de verdadeiramente revolucionário, que de alguma forma trouxesse algum alívio àquela gente. Reunimo-nos e decidimos começar pelo que podíamos fazer. Era pouco, mas era o que podíamos fazer, dadas as circunstâncias. E foi a solução. Ainda ontem, ao vir para casa, trazia a alma cheia de olhares de verdadeira gratidão.
Humildade.
Para aquelas pessoas, sentirem que alguém se preocupa com elas é absolutamente fundamental, é a luz que lhes permite ver alguma esperança na escuridão em que se encontram. Na verdade, continuamos a não poder fazer muito. Mas conseguimos alargar a rede de apoios mesmo a quem não estava inscrito no RAIZ, conseguimos aprofundar a rede com os professores, que nos enviam o material para imprimir, conseguimos chegar a mais miúdos, a mais famílias, a mais pessoas. Todas elas anseiam desabafar e dar-nos conta das dificuldades e agradecer por as escutarmos.
As mesmas pessoas que em determinadas alturas me desesperam são aquelas que nestas alturas contribuem para me encher a vida de significado.
Humildade!
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