Não estou muito habituado ao não fazer. Normalmente leio bastante, vejo bastante, escuto bastante, e por vezes dou até a sensação que apenas leio, vejo e escuto. No entanto, naquilo que eu entendo como sendo importante, há um formigueiro que não me deixa ficar parado. Esse formigueiro já me meteu em trabalhos inúmeras vezes na minha vida mas foi justamente esse formigueiro que me deu também algumas das maiores alegrias. Digo muitas vezes que, naquilo que é verdadeiramente importante, fecho os olhos e salto, sem questionar em demasia as consequências. Quando corre mal, tenho tido a bênção de ter os que me amam por perto e me recuperam da queda; quando corre bem, tenho tido a bênção de ter os que amo por perto para partilhar a felicidade e a alegria.
Hoje de manhã acordei com um sentimento de impotência que não me é familiar. Leio, vejo e escuto imensas coisas e o que eu posso fazer, o que eu consigo fazer, é imensamente ineficaz, imensamente pouco, imensamente vão, e isso provoca-me um desconforto que me tira do sério. Sinto o formigueiro que normalmente me impele para a frente, mas não consegui ainda a melhor forma de o satisfazer sem que isso ponha em risco alguém.
Faço esquemas e rabiscos e consulto aqueles com quem trabalho, nesta rede de apoio mútuo e de mútua sensação de quase impotência, já que pouco mais conseguimos fazer que telefonar às pessoas, mostrar a nossa disponibilidade para ajudar. Como nos conhecemos bem, como enfrentamos juntos os desafios quotidianos daqueles que verdadeiramente precisam, intuo neles o mesmo formigueiro, a mesma sensação de impotência, a mesma vontade de arregaçar as mangas e fazer alguma coisa... e a mesma rendição à verdade destes dias, que é permanecer em casa, não para nos protegermos, mas para que todos possam ser protegidos.
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