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A mostrar mensagens de junho, 2024

Para O Poço

  “Depois de terem entoado os hinos, saíram para o Monte das Oliveiras. Disse-lhes Jesus: «Todos caireis em escândalo, porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas serão dispersas. Mas, depois de Eu ter ressuscitado, irei à vossa frente para a Galileia». Pedro disse-lhe: «Ainda que todos caiam em escândalo, eu não». Disse-lhe Jesus: «Amen te digo: Tu, hoje, esta noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás». Mas ele dizia com grande insistência: «Ainda que seja necessário eu morrer contigo, jamais te negarei». E todos diziam o mesmo.” Mc 14, 26-31   “Entretanto, estando Pedro em baixo, no pátio, veio uma das jovens servas do sumo-sacerdote e, ao ver Pedro a aquecer-se, fixou nele o olhar e disse-lhe: «Também tu estavas com o Nazareno, com Jesus». Mas ele negou, dizendo: «Não sei, nem entendo o que tu dizes». Foi, então, para fora, para o pátio anterior, e um galo cantou. A jovem serva, ao vê-lo, começou de novo a dizer aos que estavam ali

202406171346

Ter muito que fazer para ontem afasta-me do essencial. Transforma-me em mera ferramenta, em agenda, num qualquer mecanismo que tem uma tarefa a cumprir, e a seguir outra, e outra... Sei bem que são coisas que fazem parte do que faço - e um pouco de quem sou - e que é muito por causa delas que no final do mês tenho dinheiro na conta bancária. E não me queixo. Longe disso. Porque estas coisas, em mim, no meu trabalho, não são assim tão frequentemente assoberbantes. Normalmente, como acordo muito cedo, tenho tempo para desfrutar das minhas caminhadas, das minhas orações, dos meus pensamentos devidamente acompanhados pela minha música. E isso proporciona-me equilíbrio e, sobretudo, sorrisos interiores. Quando isso me falta, falta-me imensa coisa. Inclusivamente, não acho nada que faça melhor o que tenho que fazer, fico menos produtivo e, sobretudo, menos imaginativo, o que é fundamental para muito do que faço. É só perdas. Menos no tic da agenda. Essa fica feita. Next.

202406141809

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  Somos bons a colocar etiquetas, a catalogar pessoas, a encaixá-las em classes e subclasses organizando-as segundo aspetos que não têm em consideração a sua individualidade mas a nossa preguiça.  Eu tenho a sorte de trabalhar com pessoas oriundas de muitos estratos sociais e por isso sei que as catalogações podem ser boas para objetos mas não servem para as pessoas.  Hoje, os meus miúdos do RAIZ tiveram prova. E uma delas veio ter comigo e, com um sorriso do tamanho do mundo, partilhou comigo um papel escrito pela mãe, o que está acima deste texto. Não é por acaso que é uma menina feliz, equilibrada, com os valores certos no lugar certo: é amada e sabe que é amada. E como isso é importante! Não gosto de catalogações. Gosto de pessoas, de olhos, de sorrisos e lágrimas, mas de pessoas, autênticas, concretas, diante de mim. Claro que volta e meia também catalogo - não sou mais nem menos que ninguém - mas a vida cedo se encarrega de me acordar à lambada. Como hoje. E fico mesmo feliz com

202406131008

Ao passar de um corredor a outro, ouvi vozes de crianças a cantar na portaria. Dirigi-me para lá e parei a escutá-los. Era um dos nossos coros de crianças. Abençoado lugar de trabalho onde podemos nos deparar com o belo ao virar da esquina. Particularmente numa altura em que estamos todos mergulhados nos papéis e a maioria dos professores no stress das correções, avaliações e reuniões finais. São momentos muito difíceis para os professores, que acompanham os alunos durante vários anos, os conhecem bem e às suas circunstâncias, e têm que os avaliar com justiça. Não é um equilíbrio fácil, rouba sono à noite, e causa um desgaste suplementar numa altura em que o cansaço é palavra de ordem. Também por isso, escutar um coro de crianças tem este efeito de nos recordar que a vida é muito mais que a batalha que travamos em cima da secretária. E trabalhar num lugar que, a cada momento, nos permite recordar o lado Belo da vida, é um verdadeiro privilégio.

202406121832

Acabo de ler que o Fernando Santos, com 69 anos, vai treinar o Azerbaijão. E dou comigo a pensar: o que pode levar alguém que, calculo eu, não precisa de dinheiro, a escolher ir para o Azerbaijão trabalhar e não ficar em casa com as pantufas calçadas? Só pode ser por paixão, claro. Muita paixão. Eu tenho dificuldade em entender esse nível de paixão pelo trabalho. E eu adoro o que faço, note-se. Mas é, ainda assim, trabalho. Calculo que, uma vez reformado, até nem faça coisas muito diferentes das que faço agora. Mas fá-las-ei por puro gozo, quando quiser, como quiser e com quem quiser. Espero - anseio - ter zero chatices, zero compromissos daqueles que nos obrigam a   dar o que temos e o que não temos e, finalmente, poder ter descanso: acordar quando me apetecer, deitar quando quiser, ler e ler e caminhar e ler. Assim Deus me ajude.

202406051616

Tenho destes dias, em que o profano me diz mais que o sagrado. Normalmente são dias em que, ou acordo zangado ou alguma coisa me põe zangado logo depois de acordar. São dias de pavio curto. em que não tenho grande pachorra para rodriguinhos e me apetece ir direito ao assunto. São dias de dessintonia, de algum desencanto, de copo mais vazio que cheio, o que não é muito comum em mim. Por isso, nestas alturas a minha oração é tudo menos natural, é arrancada, é consciente, é conscientemente forçada, como se tivesse que cumprir calendário. E é, por isso mesmo, invariavelmente péssima, feita de palavras e não de vida.  

202406040816

O "faça-se em mim" de Maria está ligado ao "faça-se" de Deus no início da Criação. E está ligado ao contínuo fazer de Deus em mim próprio. Este é um contínuo, uma realidade, que apenas eu posso impedir que aconteça. Como? Não dando tempo para o silêncio, não parando, vivendo na sofreguidão dos acontecimentos e não na serenidade da escuta. Escutar-me liga-me ao transcendente que me habita; escutar o outro é, por isso, mais que escutar a sua humanidade: é permitir o mútuo encontro na transcendentalidade que nos une.

202406031612

Sou contra o aborto. Ponto. Sou-o desde sempre. A base da minha posição é simples: acredito que a vida começa com a conceção. Logo, não é lícito matar seja quem for para que a minha vida possa ser, eventualmente, melhor. Já tive horas de discussões acesas olhos nos olhos e online a propósito deste tema. Já não tenho. Porque este tema não é passível de discussão. Assim, quando alguém quer conversar comigo acerca disto, eu pergunto: quando acreditas que começa a vida? Porque este é, ainda, um ponto passível de discussão. Não conheço prova científica do início da vida, conheço aquilo em que acredito: que Deus tem um nome e um sonho para cada um de nós. Mas isso é aquilo em que eu acredito, também por causa da fé. E ninguém é forçado a acreditar naquilo em que acredito. Por isso, não há discussão neste ponto. Há crenças. E as crenças podem ser conversadas, partilhadas, não devem ser dirimidas. Aquilo em que acredito pode e deve ser partilhado com outros. Mas assim como não permito a ningué