Fosse eu ao que publiquei sempre por volta desta altura e tenho a certeza que o momento se repetiria. Passado o primeiro embate, superadas as primeiras dificuldades, entro no ritmo como se lá permanecesse desde sempre e para sempre. A rotina instala-se, as soluções procuram-se encontram-se, e os dias sucedem às noites a uma velocidade vertiginosa. E por volta desta altura, focado que estou no eficaz, como que acordo da letargia e sinto uma terrível falta do belo. As coisas da cabeça, apesar de fundamentais, sabem a pouco, a muito pouco, e estão longe de esgotar o sentido do que procuro. Mesmo agora, que faço aquilo para que acredito que nasci, o que faço não é, de todo, o que eu sou. Porque gosto de escutar - e isso deve transparecer - oiço frequentemente, daqueles com quem trabalho, que se sentem meras peças de engrenagem, ferramentas cuja única função é permitir que a máquina funcione. Quando lhes pergunto o que fazem, o que pensam, a que se dedicam para além do trabalho, a resposta não surge facilmente, e vem invariavelmente acompanhada do factor tempo... e culpa. O belo faz imensa falta. Sobretudo em tempos de pandemia, quando nos sentimos coartados na expressão dos nossos sentimentos, nos abraços, nos sorrisos adivinhados por detrás das máscaras - vá lá, recordamos que os olhos também sorriem - e tudo é e deve ser contido.
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