Corro muitas vezes atrás de coisas que não interessam para coisa nenhuma. Discussões, ideiais, espumas, que ao fim de quinze dias já nem na memória ocupam lugar ou espaço. Puras perdas de tempo. Uma das minhas filhas é assim e eu espanto-me sempre que constato nela essa ânsia de correr atrás de moinhos de vento. Assume todas as discussões como se fossem fundamentais e, como eu instintivamente faço o mesmo, acabamos quase sempre em alta voz a debatermo-nos sobre coisa nenhuma, sem sequer nos apercebermos que estamos em concordância. A idade, no entanto, volta e meia vai-me permitindo algum juízo e já consigo ir distinguindo o essencial do acessório.
Lembrei-me disto ao ler um artigo acerca da descoberta do sexo por puro prazer, sem amor, depois dos quarenta. Aquele que pretendia ser um artigo liberalizador da mulher eu li como uma rendição. O artigo terminava com a constatação que a mulher em causa não era tão feliz (como era quando o sexo não era apenas prazer mas também afetividade) mas era livre, e isso era imenso. Pensei que esteé um tema de conversa recorrente com os meus filhos e como, para facilitar, lhes recomendo uma escala de valores em forma de pirâmide. Nessa escala, a felicidade está mais perto da base que a liberdade, o que significa que a liberdade é caminho (para mim, fundamental) para a felicidade e não o contrário. Na maior parte das vezes, inverter as coisas é uma armadilha que conduz à perda de ambas, a um solitário enredamento que vagueia entre auto-aprisionamento e estados de espírito fugazmente satisfatórios mas longe, muito longe, da felicidade.
Estou mesmo a ver a quantidade de ses e mas com que vou ter que lidar, mas parece-me uma boa conversa a ter com os meus filhos :-)
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