20230316

20230316

Por vezes, a tentação de ser de novo é enorme!. Fazer reset, como se de um computador eu me tratasse, limpando o histórico sem deixar rasto, podendo-me apresentar ao mundo de cara nova. Por vezes há a ilusão que o perdão é isso mesmo, um recomeçar total e absoluto, a partir da raiz, deitando fora tudo o que já provocamos. Não é isso que somos. Não é assim que somos. Muito menos é a isso que somos chamados a ser. Se se tratasse apenas de nós, se nos focássemos apenas em nós, se apenas nós contássemos, isso até seria possível. Mas nunca somos apenas nós. As consequências nunca são apenas nossas. Por isso, nunca somos de novo, carregamos a nossa vida e a imperiosidade de viver a partir da nossa vida. O que não seja isto é ilusão. E alienação. Quando magoo e me arrependo, quando não sou digno e me arrependo, quando estou errado e me arrependo, não posso fingir que não magoei, falhei ou errei. Não o posso apagar nem de mim nem dos outros, mas tenho que tentar refazer, reconstruir a partir dessa realidade, que é sempre dolorosa, mas é sempre realidade. Tenho que incluir essa dor, essa vergonha, naquilo que há a ser perdoado e aprender a viver com essa mágoa até que, um dia, consiga sentir-me restaurado pela bondade e no alívio do perdão. Até lá, até que me sinta perdoado, olhos baixos e consciência que, por muito que o deseje, não posso alterar o curso da água que já passou. E tentar aprender. E entregar-me. A Deus. Ao Seu Amor. Que me chega sempre pelo amor dos outros. Também quando me perdoam.

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