20210620


Nunca me tive como homem de grandes compromissos. Nas grandes coisas, sim, mas nas pequenas sempre fui muito volátil: quando gostava, gostava imenso, mas normalmente gostava por pouco tempo e não me custava trocá-las por outras que passava a gostar imenso. São inúmeros os livros que não terminei, os filmes ficaram a meio e as vezes que fiz e refiz a minha playlist de músicas no Spotify. À exceção da Special - que tem aquelas canções que me acompanham há vários anos - as outras vêm e vão com facilidade. 

Nos últimos anos, no entanto, algumas coisas têm mudado. Talvez porque estou mais atento e me esforço por levar os compromissos até ao fim, a gastar as minhas coisas até ao fim, a não desistir delas com facilidade. Pode ser. Mas não é só. A verdade é que vou percebendo que o meu critério é o da qualidade. E que mesmo nos meus objetos isso se verifica: se é bom, permanece, se não é bom, procuro sempre melhor. Há livros que leio desde sempre, uma e outra vez, há músicas que oiço desde sempre, há memórias que me acompanham desde sempre - e as pessoas que as habitam - e tudo isso eu conservo cuidadosamente, perenamente, indiferente a modas ou estados de espírito. A questão é que quando me deparo com o que é verdadeiramente bom, isso permanece e tudo o resto perde interesse. Quando estou satisfeito, não procuro mas saboreio.

Sou muito pouco de colocar etiquetas nos outros. Provavelmente porque poucas me sobram, depois de as aplicar quase obstinadamente em mim. E durante anos esta etiqueta do desistente me fez companhia, quase sempre de forma nefasta. Ouvi tantas vezes que eu não conseguia perseverar, não conseguia manter, não conseguia ser firme nos meus compromissos, que tudo em mim cedia à voragem do tempo - quase sempre com verdade - que acabei por me etiquetar dessa maneira. E na verdade fui assim em imensas coisas. Mas nunca o fui noutras. Naquelas que me são realmente importantes. Porque tenho esta mania que só vale a pena conservar o que vale a pena, que é estúpido manter o que quer que seja apenas por coerência ou teimosia. 

Fiz, ontem, 4 meses de exercício físico quotidiano. Apenas falhei um dia, quando todos me disseram que  seriam 15 dias até desistir. Já lá vão 119. Não por teimosia, não para provar o que quer que seja, nem sequer a mim próprio. Apenas porque é bom. Apenas porque me faz sentir melhor. Apenas porque é mais um dos aspetos da minha vida que melhora com o compromisso. E por isso o mantenho. 

Como tudo o que considero importante na minha vida. 

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