Na minha vida, o re é mais, muito mais, que um mero prefixo: é a minha vida.
Hoje, como sempre fazemos, vínhamos a ouvir o Passo-a-Rezar. É uma excelente maneira de começar o dia sintonizado com o que mais importa, escapando à sensação que somos meros parafusos de uma engrenagem que nos ultrapassa. Assim, a sermos ultrapassados - e somos invariável e inevitavelmente ultrapassados - que seja pelo Amor, que está sempre presente quando rezamos. A oração de hoje propunha que ultrapassássemos a fragmentação e a apresentássemos a Deus, que Unifica.
Imediatamente viajei atrás no tempo. Já me roubei inúmeros e dolorosos dias e noites justamente porque me sentia completamente fragmentado e perdido, dividido, sem saber o que ou quem me fundamentava, o que ou quem eu próprio era. Aterrorizava-me apresentar-me assim diante de Deus, esquecendo a mais elementar das verdades: que Ele me conhece de ginjeira e que, conhecendo-me, me ama. E, com Ele, todos aqueles por quem sou amado.
Halik ensinou-me a identificar-me mais facilmente com Jesus Também para Ele o re era sinónimo de vida. Todas as conversas, todas as curas, todos os milagres, todos os encontros e desencontros tinham como pano de fundo esse diálogo entre autoconsciência e autoperdão, de quem sente que é chamado a ser mais do que é. Tenho para mim que essa era também a Sua batalha, que andaria algures entre o "ainda não chegou a minha hora" da Galileia e o "chegou a hora" de Jerusalém. Talvez por ter sido essa a Sua batalha, Jesus percebia tão bem a batalha que dilacerava aqueles que, porque a intuíam nele, O procuravam. Talvez por ter sido essa a Sua batalha Ele tenha escolhido Pedro, para mim o grande exemplo da distância entre o que se é e o que se deseja ser.
É esta a escolha que espero que Jesus faça, sempre. É com ela que conto, é nela que assenta a minha esperança profunda em cada dia que passa.
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