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Uma das formas de avaliar o impactante na minha vida é o distanciamento. Eu, que tenho a propensão para o inebriamento do momento, normalmente preciso desse hiato de tempo para discernir os acontecimentos verdadeiramente importantes. 

Diz-se que longe da vista é equivalente a longe do coração, e assim seria se não fosse essa coisa que, segundo alguns, é apenas nossa, que é a saudade, essa coisa boa que aquece o coração, torna presentes os ausentes, menosprezando o tempo.

Nas eucaristias começa-me a faltar o tempo para recordar aqueles que partiram. Antes, nesse momento, recordava uma ou duas pessoas e agora são já tantas que quase sempre a eucaristia continua sem mim. Parece que de repente a morte passa a fazer parte da vida, não permitindo remetê-la para as calendas, para o ainda falta muito, para o terei muito tempo para pensar nisso. Todas as semanas morre alguém que carrega consigo uma parte das minhas memórias, e já sei que a cada notícia de morte são as memórias conjuntas que fazem a sua aparição, não como estertor mas como gratidão.

E há mortes e mortes. Há aquelas que se prevêem e dão tempo para nos despedirmos nem que seja interiormente, e há aquelas que nos desabam em cima e nos fazem desabar com elas. A notícia da morte de um miúdo com quem tenho boas memórias é daquelas que, se fosse eu a mandar, nunca teria lugar. Não sou. Resta-me a inevitabilidade da memória, que às vezes é também dor. Resta-me a humildade da dor, que às vezes é também memória.

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