Recordo uma deliciosa conversa de muitos anos: eu, um padre e um amigo então ligado à comunicação social. Eu, na altura como sempre à procura de segurança, perguntei se não seria melhor termos orgãos de comunicação social confessadamente católicos. Dessa forma, argumentava eu, saberíamos exactamente em que acreditar. O padre encolheu os ombros e o meu amigo, então ligado à comunicação social, disse logo que não, que o melhor era que os católicos que trabalham na comunicação social fossem verdadeiros e dessa forma tudo seria melhor. Serviu-me de exemplo e desde então tomo essa maneira de fazer como boa para tudo: é-se testemunho no que fazemos qualquer que seja o lugar, altura ou disposição.
Ontem lembrei-me desta conversa quando vi que um partido que eu desconhecia mas se intitula democrata cristão se vai aliar ao Chega. Incomodou-me, claro. Não tem tanto a ver com o Chega - mas tem um bocado, confesso - mas com a audácia de um partido se auto-intitular democrata cristão. Eu entendo que um cristão pode e deve ser político, no sentido de procurar e contribuir para uma sociedade onde cada um possa encontrar, em total liberdade, o seu lugar. Pode fazê-lo dentro ou fora de um partido, nas maiores e mais pequenas realizações da sua vida. Este olhar atento sobre o mundo que nos rodeia faz parte do ser cristão, é-nos intrínseco, sem possibilidade de menorização. Como o Papa Francisco não se cansa de referir, é importante ver e agir. Em todos os momentos da nossa vida. Por isso, desde que, há largos anos, iniciei os meus estudos nesta área, me parece que a a bitola de um cristão não é um partido político mas a Doutrina Social da Igreja, o seu olhar atento e as pistas que, sucessivamente, vai dando para que possamos contribuir para viver num mundo melhor. E quando eu olho para os partidos - e olho com alguma atenção para todos - consigo encontrar em quase todos pequenos pedaços da DSI, ainda que não explicitamente referenciada. E um daqueles que me parece estar mais longe é justamente o Chega com o seu incentivo ao medo, a sua aposta na exclusão, a sua necessidade de construir muros. Daí que não entenda como um partido que se diz democrata cristão possa querer fazer parte de uma estrutura assim. E isso incomoda-me.
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