20190821
Tenho aproveitado estas férias para ver filmes. Um deles, que estava na carteira há muito tempo, é "A Queda", que relata os últimos dias passados no bunker de Hitler. Um filme densíssimo, violentíssimo, durante o qual tive que registar algumas das interrogações que me suscitou, até como forma de lidar com tamanha violência. Sobretudo as perpetradas pelos pais aos seus filhos, que desde que sou pai nunca consegui ver da mesma maneira.
Uma das reflexões que me surgiu e que me intrigou foi que, no final, a passividade de uns e de outros face à morte era muito semelhante. Se os judeus aceitavam morrer sem se revoltarem, no final os militares mais fiéis a Hitler fizeram o mesmo: suicidaram-se mesmo quando nada o exigia. Em nome de quê uns e outros aceitavam morrer? Em nome da dignidade? Em nome da vida? Em nome da morte? Em nome da adesão total a uma religião ou a uma ideologia?
Temos que ter muito cuidado com o lobo que alimentamos dentro de nós. Com aqueles que escutamos, com aqueles que lemos e vemos e por cujos ideais pautamos a nossa vida. No filme, a forma como Goebbels e Hitler desdenharam do povo, responsabilizando-o pela escolha de os colocarem no poder e até da destruição da Alemanha, é muito impressionante. Até porque, no fundo, é verdadeira: foi o povo alemão que, em massa, votou para que Hitler cometesse todas aquelas atrocidades.
Existe, ao longo de todo o filme, a dicotomia entre um fanatismo completamente irracional por parte dos próximos de Hitler que contrastava com a sua evidente demência e incapacidade de se aperceber da situação.
É um filme muito inquietante que, como todos os bons filmes, vai andar cá por dentro algum tempo.
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