Enquanto solávamos numa esplanada junto à praia, olhava as pessoas que passavam no solarengo sábado de agosto. Adoro olhar as pessoas que passam. Ver como andam, com quem andam, ouvir os fragmentos das suas conversas que me entram nos ouvidos na sua passagem por mim. Particularmente os casais mais velhos que nós que ainda caminham de mão dada e me fazem acreditar que, apesar de tudo, o amor ainda acontece.
Foi justamente quando um desses casais passou junto à esplanada onde estávamos que dei comigo a sonhar, de olhos abertos, com o futuro. Não é que espere ou deseje que ele venha a passos rápidos - eu tenho tempo! - mas é que nem me assusta nem, se as coisas correrem pelo melhor, me impedirão de fazer aquilo que mais gosto.
Na realidade, continuo a sonhar com a casa da colina à beira mar, com longos passeios recheados de excelentes conversas na melhor das companhias. Sonho com a antecipação da visita dos que amo, preparando, para cada um deles, um cesto com as coisas da nossa horta, das nossas árvores de fruto. Sonho com o meu canto sossegado para as minhas leituras, para a minha música, para os meus filmes, já não como espaço de refúgio mas de equilíbrio. Sonho com as nossas manhãs e os nossos finais de tarde, à beira mar, com a serenidade e beleza de uma vida saborosamente recheada.
Sonho imenso com o futuro. Sempre sonhei. Ou melhor, quase sempre, porque também a minha vida teve alturas em que não conseguia ver o amanhã, quanto mais o futuro. Mas este é, provavelmente, um dos segredos do meu otimismo: consigo ver, quase saborear, o que está para vir.
Também isto é fé.
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