20190125




«Procurar reconciliação e paz implica uma luta dentro de si. Não é um caminho fácil. Nada de duradouro se constrói facilmente.» Ir. Roger

Tem sido uma constante nos últimos anos: por força das inscrições, conversas, combinações, preparativos vários, começo a antecipar Taizé na minha alma. É um regresso a uma das minhas casas da fé, que a vida já me permitiu ter várias. Há a casa casa, a Capela de São José, onde tudo começou e onde tenho as minhas raízes; há a casa lá de casa, a Igreja de São Pedro, onde lancei - lançamos - as sementes que são, hoje, as raízes do nós; há a casa de todos os dias, a Capela do Colégio, onde todos os dias me recolho, ainda que por breves instantes; e há a casa do eu mesmo, a Igreja de Taizé, onde iniciei o percurso, nunca acabado, de reconciliação comigo próprio. Todas são a minha casa, em todas encontro, invariavelmente, refúgio, todas elas sabem a reencontro, todas elas me impulsionam. Todas elas são memórias e orações e cânticos e lágrimas, sorrisos e partilhas intensas. E imensas. Em todas elas fui sendo eu à medida que fui descobrindo como ser eu, e as suas paredes e chãos testemunham os imensos eus que se foram sucedendo alternadamente, como eu sou. Em todas elas pedi perdão por quem sou, ainda mais por quem não consigo ser, umas vezes cansado, outras zangado, quase sempre tremendamente desgastado e nada mais tendo para colocar junto ao altar senão os despojos das imensas batalhas travadas comigo mesmo. É aí, junto de cada altar, que me procuro primeiro, sempre, que me refugio primeiro, sempre, que me encontro primeiro, sempre, que regresso primeiro, sempre, como o filho mais novo que, envergonhado, regressa aos braços abertos do Pai.

Hoje a Laura foi para os cuidados paliativos. Recebi a notícia, do Paulo Sérgio, há poucos minutos. Hoje, mãe de dois filhos, esposa do Noé, mas para mim sempre aquela miúda meio complicada que se escondia detrás de uma arrogância que um olhar mais atento sabia ser insegurança de patinho feio. Quando começaram a sair juntos eram daqueles por cuja relação não dávamos um tostão. Hoje, o Noé corre para junto dela em cada minuto que tem de seu para que cada minuto possa ser de ambos. Conheci-os miúdos, dei-lhes catequese infantil, de adolescência, acompanhei-os no Navegar, no RH+, no namoro, à distância no casamento.

Nenhuma casa implica apenas boas memórias. Muito menos a casa do Pai. Ou não seria casa mas ponto de passagem, fugaz e superficial. A Laura será mais uma daquelas memórias que ultimamente deram novo sentido àquela parte da eucaristia em que somos chamados a recordar os que já partiram. Já me começa a ser escasso o tempo concedido para os recordar a todos! 

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