20190129
Há dias assim. Ontem, pela reação dos meus filhos, ganhei um novo estatuto: sou oficialmente velhote. Pela primeira vez terei que tomar medicamentos a um ritmo diário para tentar controlar uma enfermidade. Não será nada de especial - espero eu - mas o entreolhar dos meus filhos à mesa do jantar foi profundamente reveladora. Se eles forem como eu pensam que os pais não envelhecem. Eu próprio, daqui a pouco, estarei próximo da idade que ainda penso sempre que o meu pai tem, à volta dos sessenta.
Creio que fui um pai muito energético. Sempre o primeiro nas brincadeiras, sempre o primeiro a rebolar pelo chão sem limites, sempre o primeiro a chegar à pista de dança, sempre o primeiro a não temer as figuras tristas da galhofa. E isso ficou-lhes na memória e no corpo. Por isso, mais recentemente, quando me nego nas brincadeiras mais físicas ou me afundo no sofá , recebo invariavelmente os seus olhares de soslaio e as suas bicas da reação. Por isso a sensação que tive ontem foi de que finalmente lhes caiu a ficha.
Há algo de um bocadinho assustador no envelhecimento do corpo. Porque envelhecer é ficar fisicamente limitado, para mim a mais difícil limitação. Mesmo na minha atividade profissional - o que eu adoro fazer no que faço - são comuns as longas viagens de camioneta, as caminhadas de vinte quilómetros, as dormidas no chão, o cantar e dançar para por o pessoal a cantar e a dançar, e tudo isso me começa a ser um bocadinho mais difícil. Claro que terei que me ajustar, que me reconfigurar, mas isso não deixa de ser um bocadinho - só um bocadinho - revelador do que aí vem. E isso é um bocadinho - só um bocadinho - assustador. Ainda.
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