Juntamo-nos uma noite destas, por altura do Natal, apenas para... jantarmos. Em tempos, o arroz de frango ao sábado à noite era um ritual. Qualquer que fosse a casa, qualquer que fosse o tempo lá fora, qualquer que fosse o programa de fim de semana, nada nem ninguém escapava ao arroz de frango. Depois vieram os filhos e as educações diferentes do filhos e as dificuldades dos filhos nas partilhas dos brinquedos e as manias dos pais com os filhos e começou a haver sábados sem arroz de frango e arroz de frango sem sábados, cada um em sua casa. No entanto, quando nos juntamos, sempre que nos juntamos, é como se não tivesse existido interregno, é como se tivesse assim desde sempre, para sempre.
Estarmos juntos como se não tivesse existido tempo nem distância parece-me ser um excelente barómetro para o amor. Sabemos todos que a vida se vai instalando sobre os nossos desejos, os nossos anseios e até as nossas escolhas preferidas e que às tantas descobrimo-nos a correr atrás do prejuízo. Na verdade, acredito que, apesar das confusões momentâneas, aquilo que nos é verdadeiramente importante acaba por se impor, seja sob a forma de alegria, seja sob a forma de mágoa. Conheço gente muito boa que tem a mágoa profunda, silenciada e escondida por omnipresente companheira de quotidiano. Porque, de uma forma ou de outra, o que é verdadeiramente importante nunca perde a sua importância.
Quando nos juntamos, sempre que nos juntamos, é como se tivéssemos estado sempre juntos. Não há mágoa, não há azedume, nem sequer há tapetes para onde possamos varrer o inconveniente. Sabemos que, justamente porque gostamos imenso uns dos outros, em determinadas alturas da vida há coisas mais importantes que uns e outros, e que, ente nós, a nossa própria família sempre teve a primazia, como deve ser. Isso em nada nos retira, apenas acrescenta. Até porque sabemos que, uns e outros, estamos sempre prontos e disponíveis para o que for necessário. Sem tempo. Sem distância. Como acontece entre quem se ama.
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