Todos nós já sentimos, em alguma altura, vergonha alheia. Seja com um tio desbragado numa qualquer cerimónia, um amigo que sabemos ser impecável apesar do seu ocasional comportamento desapropriado, ou, neste caso, com uma Igreja que sabemos, por experiência própria, ser imensamente mais do que aquilo que tem sido manifestamente noticiado. Nestas alturas não tenho por hábito sacudir a água do capote: defendo, quando muito, calo, e deixo para uma outra altura uma conversa mais apropriada que nos permita enriquecer mutuamente.
Nesta altura é-me particularmente difícil lidar com a vergonha que, ainda por cima, não sinto como propriamente alheia mas como também minha, da família que escolhi para viver comigo a fé: a Igreja. Em momento algum senti que este era um problema que não me diz respeito. Não porque tenha contactado direta ou indiretamente com casos de pedofilia ou qualquer tipo de abuso físico, mas porque, agora que se têm provado - ainda que não em tribunal - tornam mais clara uma realidade que eu pensava (desejava) longínqua.
Sobre estes casos só podemos ter tolerância zero. Ponto final. Sem mas, sem porques, sem atenuantes, quaisquer que elas sejam. Aconteceu suspeita de abuso? Comunica~se às autoridades competentes (civis, claro), e ativam-se os procedimentos de mútua proteção até ao apuramento da verdade. Confirmou-se? Condene-se. Não era verdade? Condene-se quem acusou. Assim. Simples. O único cuidado que se deve ter é o do direito à privacidade, particularmente se existirem crianças envolvidas, pelo que se dispensa tanto a condenação em praça pública como a condenação em praça exclusivamente eclesial. Abuso é pecado, sim, e acredito que a misericórdia do Pai não tem limites, mas é também crime, e não pode ser escondido ou varrido para debaixo do tapete.
E quando alguém me aponta o dedo, porque sou católico, a minha resposta é apenas uma: baixar a cabeça e dizer que têm razão. Também eu estou na berlinda.
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