Recebi uma mensagem do meu filho: "isto é um escândalo!" É, filho, é mesmo um escândalo. "É vergonhoso!", respondi. Que haveria eu de dizer? Educamos os nossos filhos na Fé e na Igreja, onde fizeram o percurso catequético inteiro, foram dirigentes do grupo de jovens e estão envolvidos em vários grupos cristãos. Apesar de nem todos, agora adultos, terem prática eucarística dominical, vivem todos com Deus dentro, o que significa que as suas escolhas de vida, mais importantes ou menos importantes, têm sempre como pano de fundo a fé em Jesus Cristo, o seu inspirador nas atitudes e valores com que pautam as suas profissões e as suas vidas. Desde sempre que temos longas conversas sobre a fé e a pertença à Igreja - que é difícil para eles - sem assuntos ou temas tabus, sem autores ou ideias proscritas, sendo tudo e todos passíveis de discussão. Discutimos, por isso, inúmeras vezes a posição da Igreja face aos temas fraturantes, cuja importância a Igreja despreza esquecendo que esses são, efetivamente, os seus temas, porque são aqueles que eles têm que debater nos mais variados areópagos que habitam. Lá, nas faculdades onde estudaram, nos hospitais e demais empresas onde trabalham, nas discotecas e bares que frequentam, ninguém sabe nem quer saber quem foram os teólogos mais marcantes na História da Igreja nem o que defendiam. Mas lêem jornais e vêem notícias e consultam a internet e sabem por isso quem é o Papa Francisco, de quem gostam, até porque acham que está muito à frente. Por isso, o que me preocupa enquanto pai, católico, mergulhado na Igreja até aos ossos, é como esta Igreja, que eu amo, que é uma parte muito importante da minha vida, fala aos meus filhos e aos seus amigos que não falam esta linguagem. O que diz ela? Que Jesus apresenta? Que modo de vida propõe? Como propõe? Eu conheço bem o que diz, eu até sei distinguir o trigo do joio, as parangonas daquilo que é efetivamente escrito. Mas não é para mim que a Igreja, hoje, tem que falar. E, se não quer falar a linguagem dos meus filhos ou nos lugares onde eles habitam, que se cale. Pelo menos que se cale. Se se calar, eles, os meus filhos e os filhos dos muitos católicos como eu, pelo menos não se vêem na necessidade de defender o indefensável ou, no limite, não são obrigados a baixar a cabeça com vergonha do que nós, os cristãos, também andamos a fazer. E a permitir que façam. Face às pedofilias, às fugas de capital, aos comércios duvidosos, às opolências, à surdez seletiva do mundo, às inúmeras segregações motivadas pelo género, pelas opções sexuais, pelos acontecimentos da vida, pela tentativa de cada um de exercer o seu direito de poder ser visto com a dignidade de filho de Deus qualquer que seja a sua circunstância, face a tantas enormidades que todos os dias leio e presencio por parte de pessoas da Igreja, que hei de eu dizer aos meus filhos e aos filhos dos outros? Curvo a cabeça em sinal de respeito e vergonha, peço perdão como o Papa, e luto por dentro, todos os dias, para que esta Igreja, que amo e à qual pertenço, consiga estar mais próxima do que Jesus quis para ela. Não é assim tão difícil: basta olhar para o Filho de Deus e tentar imitá-Lo. Difícil é consegui-lo.
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