Convidaram-me para falar de como é esta coisa de viver com fé dentro às turmas do 11º ano. E eu, que padeço desta incontinência verbal que me impede de dizer não a um bom desafio, tolamente, disse sim. E desde aí ando com este assunto na cabeça. É que falar do viver na fé é a mesma coisa do falar do respirar. Eu sei que respiro mas, exceptuando nos momentos em que o exercício aperta, não ando a pensar na maneira como respiro, se o ar entra pelo nariz passa pelos pulmões e é expelido pela boca. Não estou nem aí: respiro e já está. E, pelo menos nesta altura do meu campeonato - não significa que tenha sido sempre assim ou que o seja para sempre - viver com fé dentro é-me tão natural quanto respirar. Quer isto dizer que todos os meus atos, todos os meus pensamentos, todas as minhas pequenas decisões quotidianas são refletidas e ponderadas e contextualizadas pela fé e decididas de acordo com a minha fé? Claro que não. No entanto, espero, desejo, anseio, que subjacente a elas esteja a fé e que espelhem a forma como vivo a fé. Mesmo nas camelices - e são muitas - e na maneira como me arrependo delas e as tento trabalhar para ir sendo melhor, está presente a fé. Ou, sobretudo nelas, nas camelices, porque originalmente foi essa permissão para renascer que me atraiu em Jesus Cristo. Este olhar sempre novo sobre mim, sobre os outros e sobre a vida, sem coisas na manga, sem ontens recalcados, prenho de presentes possíveis e futuros sonhados, vividos e contagiados, tem muito a haver com a minha fé, com a maneira como vivo a fé. Agora... como se explica isto senão vivendo isto?
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