20210514

 
 
Nunca tinha estado sob a luz dos holofotes. Foi a minha primeira vez. Na verdade, já me vou habituando a ter os olhos postos em mim nas eucaristias e orações - é fundamental para que cantemos juntos - mas aí não sou propriamente eu mas o papel que ocasional e momentaneamente assumo: ponho as pessoas a cantar. E como gosto de o fazer! Aqui era diferente: era eu mesmo que estaria sob a luz, era de mim que falaria. O meu lado profusamente inconsciente permitiu que fosse completamente descontraído. Sabia que era muito mais importante para quem me convidou e, sobretudo, que não teria que preparar ou estudar coisa nenhuma. Ser-me-iam colocadas perguntas e eu responder-lhes-ia como muito bem entendesse. O fundamental disto tudo era - é - o meu carinho e respeito, ambos intensos, profundos e alicerçados na vida, por quem me tinha convidado. 
Passou rápido, à velocidade com que passa aquilo que me sabe bem viver. Tinha tido a oportunidade de testemunhar uma das coisas que mais aprecio: um conjunto de gente nova, desempoeirada, a preparar o seu e o nosso futuro. Juntos, tínhamos sacudido o nervosismo inicial e, espero, aproveitado a viagem. Assisti às suas escolhas técnicas - câmara para aqui, nova perspetiva para ali, som na lapela - a barba a raspar na camisa - com o deleite de quem não tem nada a ver com isso a não ser percepcionar a imensidão que vai na cabeça de quem se prepara para ser o melhor na sua área.  
Como em quase tudo o que faço - mesmo a nível profissional - não tenho uma preocupação excessiva pelo resultado final. A mim compete-me fazer bem, o melhor que me é possível, dentro de todas as minhas condicionantes, tentando não defraudar expectativas. Depois, o que os outros fazem com o que fiz é da sua responsabilidade. Desta forma, aproveito a viagem de forma a sair dela um bocadinho melhor que quando entrei. E foi justamente isso que ontem aconteceu: sentei, relaxei, conversei. Uma conversa de amigos com os olhos postos no Leo, um amigo que tenho tido o enorme privilégio de ver crescer. Sabemo-nos na mutualidade da amizade profunda, do enorme apreço, da descoberta, e até da dor. 
E quando, chegado a esta idade, me sinto acarinhado por pessoas deste calibre, só me posso sentir abençoado.

 

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