Permanecer, depois da realidade, é uma das grandes maravilhas do amor.
Tenho visto uma série que me tem lançado algumas interrogações: Messiah. Não tanto porque aborda a eventual revisita do Messias, mas mais por causa das tramas relacionais e afectivas que giram à volta desse acontecimento. De amor e de desamor. Numa delas - a que conta para aqui - é entre um pai e a sua filha que, com o apoio da mãe, fez um aborto.
Há no amor uma forte carga de encantamento, de alguma ilusão até. Quando estamos apaixonados, quando amamos, sentimo-nos capazes de mover montanhas, ainda que por vezes nos tenhamos que render mais ao projecto que à realidade. Na fase de encantamento tudo é possível, tudo é desejável, tudo é bom e maravilhoso. À medida que o tempo passa, no entanto, a realidade vai alternando com o encantamento e nessa altura dá-se a prova dos nove. Quando se ama, verdadeiramente, permanece-se, ainda que possa ser necessário ajustar o amor à realidade: reconfigura-se o amor e nós com ele de forma a permitir que sejamos habitados por dentro por aqueles que amamos.
A maravilha é que este amor, reconfigurado, recondicionado, realizado (confrontado com a realidade), não é em nada menor que quando encantado. Justamente porque foi já provado, porque porventura já teve justificação para terminar ou não existir, justamente porque superou a fase de encantamento, ganha agora uma nova importância que decorre do lugar que cada um ocupa dentro de quem ama. Não é a idealização que se ama, é a pessoa em si, inteira, exactamente como é, com as suas qualidades e imperfeições, que, por ser assim, assume uma importância fundamental na vida de quem ama. qualquer que seja a forma que esse amor reveste. Ama-se e é-se amado como e pelo que se é.
E isso é verdadeiramente libertador!
Sem comentários:
Enviar um comentário