Por muito que espere e goste de esperar, por muito que eu pense que a minha vida é um quase permanente advento, por muito que me ache preparado para as curvas da vida, não consigo deixar de ser surpreendido. Por vezes acho que esta esperança constante, este fazer e refazer permanente, esta ausência de planos pré-definidos não passam de uma defesa mal amanhada para tentar lidar com a imponderabilidade da vida. Se não consigo controlar coisa nenhuma, porque não render-me ao nada que sou? Abro os braços, metaforicamente ou não, e preparo-me para o embate. Talvez por isso as botas de caminhar e a mochila sejam uma presença constante no meu imaginário consciente. Sinto-me sempre preparado para partir, lutando permanentemente para me libertar das amarras de cada vez que me tentam prender. Imaginem agora esta forma de sentir a vida num casamento de mais de vinte e cinco anos. Apenas posso imaginar como será para a Isabel - que nisto como em muitas coisas é o oposto de mim - lidar comigo e com a minha permanente vontade de me libertar. Evidentemente, já não peço desculpa. Posso lamentar esta forma de ser, posso até carregar a culpa, mais ou menos declaradamente, mas já não peço desculpa. Não adianta. A cada promessa, feita de vontade e alma aberta, de não voltar a acontecer, sucede sempre a vontade de partir.
Desta vez fui surpreendido da forma mais definitiva possível. e voltaram as questões, as imponderabilidades, as inevitabilidades, as angustiantes perguntas que me acompanham desde sempre. E se fosse eu? Hoje? Aqui? Agora? Que legado deixaria? Que legado apresentaria ao Pai?  

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