Dê-se à miudagem um belíssimo dia de sol, uma piscina e uns escorregas, e teremos semeado as memórias de um dia absolutamente inesquecível. Sobretudo se nunca o fizeram antes.
Continuo a deixar que a realidade me surpreenda! "Deixo a caixa dos comprimidos do enjoo para a minha filha. Não sei se ela enjoa, porque nunca andou de autocarro nem de camioneta, mas leva de qualquer maneira. E se algum miúdo precisar, pode dar desses." Quando comentava isto, espantado pelo facto de uma miúda com 7 anos nunca ter andado de camioneta, fiquei ainda mais espantado quando soube que ela nunca viu o mar. O nosso Espaço RAIZ fica a pouco mais 1 km do das praias da Foz do Douro, e aquela miúda, que vive junto ao RAIZ, nunca viu o mar! Em 2022, neste país à beira mar plantado, há pessoas nascidas neste século que ainda não viram o mar!
Estas coisas provocam em mim o efeito necessário: coloco os pés no chão e abro os olhos, permitindo-me ver bem quem tenho diante de mim. E ainda bem que tudo isto sucedeu ainda antes do dia de hoje, do primeiro dia de colónias de uns miúdos que, fruto do COVID, nunca as tinham tido. Porque deu-me o privilégio de testemunhar o seu espanto, os seus gritos de alegria, a sua descoberta da água, o seu primeiro almoço com os amigos e, sobretudo, apreciar de perto os seus olhos lindos, abertos, cheios daquela ilusão que apenas se tem quando a vida vivida ultrapassa a vida sonhada. Demasiadas vezes temos demasiadas coisas dadas por garantidas. Podermos espantar-nos com o espanto das crianças é um verdadeiro privilégio. É também por isso que adoro o que faço!
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