Hoje, numa turma, tive dificuldade em fazer-lhes perceber a importância do sonho. Talvez porque são miúdos imersos numa (demasiado?) boa realidade, feita de objetivos claros, de percursos há muito delineados, onde não há grande lugar para devaneios. Muitos deles são miúdos já com muito pouco de miúdos, tal é a carga que lhes é imposta por eles próprios e pelos seus pais e pelas elevadíssimas expectativas que uns e outros têm para as suas vidas. Eu olho para eles e tenho alguma dificuldade em perceber. Naquela idade não deveriam ainda levar as coisas demasiado a sério. Deveriam ser capazes de arriscar, de viver a felicidade ao máximo, de aprender que as noites podem ser infinitas e os amanheceres irrepetíveis na melhor das companhias, com todos os sentidos bem despertos para poderem usufruir o imensamente belo e o maravilhosamente novo, tão próprios da idade que têm. E no entanto... olho-os e a muitos deles falta vida, demasiadamente preocupados com os testes e com as matérias e com as notas e com as explicações e com aquilo que os pais vão dizer quando virem o 19,2 quando a expectativa era, pelo menos, um 19,7. Falei-lhes do sonho e ficaram a olhar para mim, com necessidade de explicações extra que os fizessem perceber o que é isso de sonhar. Afinal a realidade que habitam é, aparentemente, tão boa, tão cheia de dinheiro, tão cheia de lugares da moda, de roupas da moda, de bebidas da moda, de pessoas da moda... vão sonhar para quê? vão sonhar com quê? para que realidade? com o que sonha quem acha que nada lhe falta?
Que mundo estamos nós a criar?
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