A maneira como sou reconhecido é, desde sempre, um dos focos da minha atenção. Tempos houve em que o era excessivamente, em que me preocupava de uma maneira quase obsessiva com o que os outros ficariam a pensar de mim, e isso acabava por me limitar e me levar a fazer asneira: para que ficassem apenas boas memórias, por vezes não fui carne nem peixe, ou fui ambos, o que é ainda pior. E ainda hoje recordo com frequência últimas palavras, ou últimas atitudes, ou últimas decisões que, se tomadas hoje, seriam diferentes e penso que, perante a eventual notícia da minha morte, gostaria de ir ter com algumas dessas pessoas e desfazer o que foi feito ou dito, ou deixado por fazer ou dizer. A verdade é que é importante para mim ser bem recordado. Com um sorriso, se possível.
À medida que a idade avança vou percebendo que isso não será, de todo, possível. Não com toda a gente, não com todas as situações, não com todas as circunstâncias. Ainda ontem, curiosamente, tive necessidade de falar grosso com alguém que estava a ser mal educado e sobranceiro com quem achava que podia e eu tive que - de forma pouco meiga - por cobro à situação. Claro que o que ela vai recordar de mim não será coisa boa, mas incomodar-me-ia muito mais não ter feito nada. Porque a verdade é que as memórias que eu eventualmente deixo em alguém são importantes, mas não são tudo. E muito menos à custa de tudo.
Mas que é bom ser (bem) recordado...
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